quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Linguagem neutra

 Olá amades! Hoje vou falar sobre um assunto que está na crista da onda; a linguagem neutra, ou neolinguagem ou ainda linguagem inclusiva.

Bem, o que é essa linguagem neutra afinal? Trata-se de uma proposta de inclusão igualitária em nossa língua tanto falada quanto escrita. O debate não é recente, já perdura há bastante tempo, desde que grupos de mulheres se sentiam incomodadas por serem tratadas no masculino quando dividiam um ambiente com um ou mais homens. Sim, a língua portuguesa é propicia a enaltecer a figura masculina e invisibilizar a figura feminina. Foi denominado pronome neutro a forma masculina, ou seja, não existe neutralidade, o que existe é uma organização tendenciosa muito bem estruturada.

A linguagem neutra é uma proposta que visa a inclusão dos grupos femininos que se incomodam com essas heranças patriarcais, das pessoas não bináries e de pessoas com diversidades funcionais. Durante algum tempo surgiram propostas para neutralizar as formas de tratamento com o uso de "x" ou "@" substituindo vogais indispensáveis para a compreensão da palavra. Porém, esse uso é contestado. Primeiro porque não representa de fato uma neutralidade, esse uso de caracteres acaba excluindo as identidades que são sobrepujadas pela falsa neutralidade de nosso idioma. Além do mais, pessoas com baixa visão e que dependem de aparelhos leitores, sofrem para identificar essa escrita, pois, o software não reconhece esse padrão linguístico, sem falar nas pessoas disléxicas que encontram extrema dificuldade em se concentrar numa palavra impronunciável. 

A linguagem neutra foi construída por especialistas em linguística como uma alternativa para esse e outros problemas. Pessoas não bináries, por exemplo, não se sentem representadas por "Elx" e "delx", esse x acaba negando nossa existência ao invés de lançar sobre nós uma luz. A discussão do momento é acalorada e muitas pessoas criticam a implementação do uso da neolinguagem por dizerem que vai acabar com o português, que é difícil ou que é modinha. Essas criticas são infundadas e são contraditórias, pois, as mesmas pessoas que dizem isso, utilizam o internetês, sem se preocupar com a estrutura do idioma, sem pensar na dificuldade de compreensão e certamente não aprendeu na escola, ou seja, segue uma tendência, ou uma modinha. ^^

Se pararmos para refletir a respeito do debate a esse respeito, notaremos que trata-se de uma disputa de poder. É um discurso ardiloso construído por uma base ideológica muito bem posicionada; as pessoas integralistas e "tradicionalistas".

Quando usamos abreviações como: tmj, mlk, omg, tnk, ctz, obg, vlw, blz, na internet, não somos questionades a esse respeito, não é visto como uma afronta à língua, não é visto como modinha, frescura ou ideologia.... Mas será que não é mesmo? Na verdade, a relação de poder se dá no choque de culturas onde de um lado temos as pessoas reacionárias e do outro o grupo que propõe essa mudança. Claro que tudo seria mais fácil de aceitar, se a proposta não viesse de um grupo transgênero.

Nós não bináreis, encontramos forte resistências nos espaços e esferas sociais, e quando uma proposta promovida por e para nós toma conta dos meios de comunicação, essa classe especifica de pessoas supremacistas, vê-se no direito de lançar contra a proposta injurias e argumentos rancorosos, contaminando assim uma discussão saudável e pacífica. É interessante notar que em momento algum, a proposta foi lançada com o intuito de substituir a língua portuguesa, até agora, toda a discussão baseia-se na apresentação dessa proposta como meio alternativo de comunicação. 

Vale lembrar que não existe só uma maneira de aplicar a linguagem neutra. Podemos praticar o uso do idioma para substituir palavras que evidenciam o gênero das pessoas e tratar a todes de forma neutra, por exemplo, ao invés de dizer "Você está lindo/linda", você pode dizer "Você está linde", ou ainda pode dizer "Você está deslumbrante". Percebe? Se você é daquelas pessoas que se apega ao padrão binário linguístico, saiba que não precisa abrir mão dele para aplicar a linguagem neutra em seu cotidiano, é uma questão de empatia e prática.

O que está causando todo esse alvoroço ao redor da internet é o fato de que pessoas trans estão apresentando a proposta, e não digo isso como forma de vitimismo, muito ao contrário, estou evidenciando uma relação bruta de poder e demonstrando resistência. 

O uso da linguagem neutra é a forma mais inclusiva encontrada por especialistas em linguagens para que possamos alcançar a igualdade linguística. Isso não quer dizer que ela é perfeita, longe disso. Também não quer dizer que o idioma oficial vai mudar por conta disso, na minha opinião específica, deveria, mas não vai. No fundo, trata-se apenas de uma forma de comunicação que pode ser facilmente assimilada se os discursos ideológicos forem colocados de lado.

Algumas pessoas criticam a discussão sobre essa pauta dizendo que existem coisas mais importantes para serem discutidas. Nós somos seres pensantes, podemos discutir diversos assuntos, não é? Uma discussão não impede que outras aconteçam em outros lugares, em outros meios de comunicação, em outros grupos... Falar de linguagem neutra é falar sobre a questão de gêneros e inclusão, algo que sempre foi problemático no Brasil. Nossa inclusão se parece mais com uma integração, uma separação ou até mesmo uma exclusão. Quando falamos de igualar as importâncias de todos os grupos, atingimos o ponto fraco de pessoas tradicionalistas/integralistas e essa classe não aceita ser contestada. 

Essa que é a grande verdade por trás da discussão a esse respeito. Tudo se trata de relações de poder e de quem está propondo a discussão. 

Beijos da Pri ^^!!! 

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