quarta-feira, 28 de outubro de 2020

INVISÍVEL NOTÁVEL

 


INVISÍVEL NOTÁVEL
Sinopse:
Um adolescente que tinha tudo e de repente a crueldade do destino transformou sua vida num enorme vazio. Não foi apenas a morte que lhe tirou pessoas importantes, mas a vida também.
Filho de militar, Juliano D'Alva passou a vida cercado de proteção, e com apenas oito anos conheceu Caio, um adolescente de treze que conquistou à primeira vista o coração de Juliano, fazendo dele seu melhor e único amigo. Porém, cinco anos mais tarde, Caio fez com que Juliano entendesse o real significado das palavras amor e saudade.
Perdas significativas, abandono, solidão e quando Juliano acreditava que não lhe restava mais nada, aos dezesseis anos, ele se reencontra com Caio, já um homem feito, aspirante a aviador, enquanto Juliano é apenas um adolescente.
Invisível Notável é mais que uma polêmica história sobre amor e amizade, fala sobre resiliência, sobre mortes, abandono, violência, perdão e resignação.
Será este homem capaz de se libertar dos dogmas militares e assumir seu amor por Juliano? Até onde o amor é capaz de vencer tabus?

Mini biografia:
JVLeite é uma mulher hetero, cisgênero, casada, mãe e avó, vive em Recife/PE com sua família e cachorrinha. Pós graduada em Gestão de Pessoas & Consultoria, escreveu seu primeiro romance homoafetivo em 2015 e desde então não parou mais. Atualmente dedica-se apenas à carreira de escritora e tem sete obras publicadas que fazem parte da literatura lgbtqi+:
•High Definition - O amor não tem gênero •Full HD - O amor não tem medida •CADU •RHYAN - spin-off de CADU •Clube da Moto •Invisível Notável
• O Faroleiro

JV Leite é uma pessoa empática e humanitária. E é o exemplo de que pessoas cis e hétero também podem ser sensíveis à vida como um todo. Não precisa estarmos inserides num grupo para lutar por ele, certo? 

Essa excelente escritora nos presenteia com muitas reflexões e sensibilidade.


Beijos da Pri! ^^

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Como dizer, eu te amo?

 


Esse texto não é sobre sexualidade, não é sobre gênero, nem sobre a população LGBTQIAP+; é sobre uma condição humana, sobre algo imaterial, imensurável e particular, e também sobre mim.

Identidade de gênero, sexualidade e expressão de gênero


Tenho conversado com muitas pessoas que ainda estranham esses (e outros) conceitos. Não acho absurdo que isso aconteça, primeiro que ninguém é obrigade a conhecer todo o espectro de gênero, nem possuir todas as informações, e depois, nosso país é demasiadamente desinformado e tradicionalista, então tudo o que foge da norma imposta é ignorado propositalmente pelas mídias, quando não é atacado.

Bem, tentarei lançar uma luz sobre esses temas, espero que consiga ser sucinta e clara o suficiente. ^^

domingo, 18 de outubro de 2020

Transfobia no trabalho

 


Antes de começar, quero dizer que apesar desse tema ser recorrente, as experiências aqui relatadas foram vividas por mim, e é com muito pesar que digo que não sou só um caso isolado, mas que esse tipo de coisa acontece com muita frequência.

sábado, 17 de outubro de 2020

Lendas Curitibanas


 

Lendas curitibanas é uma ode à memória histórica, à cultura e preservação do imaginário local. A escritora Luciana do Rocio Mallon, assexual, super conhecida na mídia, teve muito cuidado e apreço ao produzir essa e outras obras.

Super indico os vídeos no Youtube para conhecerem mais sobre a artista de amplas habilidades. Também deixarei aqui o link do blog dela, para que tenham acesso à outras produções dela.

O instagram da escritora é @lucianamallon, segue lá! ^^

Beijos da Pri! ^^

Link para o blog da Luciana

A história de Trixie

 


Com o objetivo de auxiliar no processo pedagógico de respeito às diferenças sociais de classe, diversidade, religião, cultura e linguagem; Unificando nossa singularidade com nossa coletividade, a proposta se baseia em uma contação de histórias na qual de forma lúdica as diferenças entre um sujeito e outro é retratada por Trixie que vive em um mundo Cinza, porém não se identifica com aquele mundo e guarda consigo um segredo, de um universo completamente colorido.

Seus colegas ao descobrirem, se chocam pois era inadmissível que alguém pudesse gostar de uma cor. Nem sempre o mundo foi cinza daquela forma. Há anos, o cinza e o colorido se encontravam em perfeita harmonia, o sol e a lua se mostravam nas mais intensas cores, o céu era perfeitamente azul, até que um belo dia se transformou em tristeza e desumanidade. Um rei invadiu e decidiu que, a partir daquele momento, tudo seria cinza. E foi nesse mundo que Cinzelão cresceu. Quando seu segredo mais íntimo foi descoberto e transformado em chacota, ela se lembra de sua avó, que lutou bravamente para que tudo tivesse sido diferente. E junto da lembrança, procura um livro que sua avó havia deixado de recordação para que (nome) nunca se esquecesse de onde veio. E é através desse livro que algo mágico acontece, ela consegue realizar o seu segredo, de um mundo colorido e divertido. Mas ela vai perceber que nem tudo é como parece ser neste mundo que está prestes a conhecer, todas as pessoas, em todos os momentos de suas vidas não param de sorrir. 

E é nessa aventura por trás de seu segredo, que ela descobrirá que não é feliz em nenhum dos dois mundos, e que na verdade, é necessário um equilíbrio nas cores, ninguém precisa ser um rei horrível como foi Cinzelão, mas também não é agradável estampar um sorriso o tempo todo, mesmo não sendo sua vontade.

(Texto de Letícia Pereira)


Eu assisti ao espetáculo e adorei. Não consigo encontrar palavras para resumir o quão magnífica é essa obra. Artistas empenhados, talentoses e muito, mas muito didátiques. Foram minutos que me fizeram refletir por quase uma eternidade. Trabalhos como esse, deveriam ser comuns na educação infantil, onde se mostra o valor das pessoas e o equilíbrio necessário para se viver em sociedade.

Eu super indico o trabalho da dupla e sugiro que sigam-na no instagram para que tenham acesso a outros trabalhos magníficos.
E deixarei também o link do vídeo. ^^

@leticia.pereira_cristal e @gerda_mueller

Bom entretenimento! ^^ Beijos da Pri!!!^^

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Passabilidade

 Esse termo é um verdadeiro fantasma que assola e oprime a comunidade trans e não-binária. Passabilidade é a característica atribuída a uma pessoa trans que se parece muito com a imagem idealizada de uma pessoa do gênero ao qual ela se identifica. 

domingo, 11 de outubro de 2020

VANILLA O Sabor Mais Doce (As Crônicas de Água e Fogo)

 


Vanilla O sabor mais doce, Abey S Lira - Leitura gratuita através do wattpad.

Baseada em fatos. 18+

Quando o destino insiste em fazer o futuro repetir o passado, como impedir? É por coincidência ou o destino tende mesmo a ser um grande vilão das histórias?
Na maioria das vezes o destino forma triângulos amorosos mesmo sabendo que só duas almas sobrevivem a linha do amor.

Para ter acesso à história, basta clicar no link. Talvez peçam para se cadastrarem.

Link de acesso para a história 

Beijos da Pri!

sábado, 10 de outubro de 2020

Um de nós

 


Um de nós, 2020 - Pricila Elspeth - Leitura gratuita disponível no wattpad.


João Carlos sofre de amnésia, e juntamente com sua namorada
Maria Madalena, procuram ajuda especializada.
Porém, isso desencadeia uma série de eventos inexplicáveis e
perseguições ensandecidas e alucinantes.
Maria tenta proteger o namorado, enquanto João busca entender
o que está acontecendo.
Você acredita no improvável? Acredita que qualquer um de nós
pode ser
especial? Então venha filosofar comigo nessa história repleta
de reflexões e eastereggs. ^^
Talvez peça para se cadastrarem, mas é bem tranquilo.

Link de acesso

Hormonização, o que muda?

 


Anteriormente postei um texto falando sobre algumas dificuldades enfrentadas por mim, durante o começo da hormonização, logo que decidi iniciá-la. Hoje, vou contar um pouco mais, e certamente ainda terá assunto para outro post.

A promessa

 


A promessa, 2020 - Pricila Elspeth, disponibilização gratuita pelo wattpad. 

Um conto LGBTQPIA+ narrando a história de um casal lésbico. Como elas descobrem o que sentem uma pela outra e como os acontecimentos mudam a essência e a história delas.

É bem curtinho, e disseram que é bonitinho e fofo. ^^ Eu só agradeço!

Para ler é só clicar no link, talvez peçam para se cadastrarem, mas é de boa gente. 

Link para leitura gratuita

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Identidade de gênero

 

Olá querides! ^^ Cá estou novamente para trazer mais uma discussão polêmica; identidade de gênero.

A identidade de gênero é a maneira como a pessoa se entende enquanto pessoa dentro de um espectro amplo de gêneros. Existem muitas, muitas possibilidades mesmo. Pessoas podem ser homem ou mulher cisgênero, intersexo, homem ou mulher transgênero, travesvi, não bináries, gênero fluido, agênero, e outras mais. No entanto, quando uma identidade de gênero sai do padrão cis, dificilmente ela é vista e respeitada como tal.

Minha Mãe

 

Minha mãe, 2020 - Pricila Elspeth

Este conto foi criado para o dia das mães, é uma homenagem a todas as mães e também uma forte reflexão a respeito dessa figura e das vivências maternas de pessoas transgêneros.

O conto narra a história de Guto após um trágico incidente, onde ele precisa lidar com dor, sofrimento, preconceito, valores e amores. O adolescente é rebelde e problemático e quando perde sua única base de apoio, se vê perdido e sem noção de para onde seguir, no entanto, de forma inesperada, surge em sua frente a possibilidade de rever uma pessoa que não via há muitos anos. À partir desse encontro, toda sua realidade e sua perspectiva de mundo começa mudar. 

É um drama com pitadas de realidade, violência, consumo de drogas e muita reflexão.

Esteve em exposição durante um tempo no wattpad e foi muito elogiado pelos leitores.

Link para aquisição

Linguagem neutra

 Olá amades! Hoje vou falar sobre um assunto que está na crista da onda; a linguagem neutra, ou neolinguagem ou ainda linguagem inclusiva.

Bem, o que é essa linguagem neutra afinal? Trata-se de uma proposta de inclusão igualitária em nossa língua tanto falada quanto escrita. O debate não é recente, já perdura há bastante tempo, desde que grupos de mulheres se sentiam incomodadas por serem tratadas no masculino quando dividiam um ambiente com um ou mais homens. Sim, a língua portuguesa é propicia a enaltecer a figura masculina e invisibilizar a figura feminina. Foi denominado pronome neutro a forma masculina, ou seja, não existe neutralidade, o que existe é uma organização tendenciosa muito bem estruturada.

A linguagem neutra é uma proposta que visa a inclusão dos grupos femininos que se incomodam com essas heranças patriarcais, das pessoas não bináries e de pessoas com diversidades funcionais. Durante algum tempo surgiram propostas para neutralizar as formas de tratamento com o uso de "x" ou "@" substituindo vogais indispensáveis para a compreensão da palavra. Porém, esse uso é contestado. Primeiro porque não representa de fato uma neutralidade, esse uso de caracteres acaba excluindo as identidades que são sobrepujadas pela falsa neutralidade de nosso idioma. Além do mais, pessoas com baixa visão e que dependem de aparelhos leitores, sofrem para identificar essa escrita, pois, o software não reconhece esse padrão linguístico, sem falar nas pessoas disléxicas que encontram extrema dificuldade em se concentrar numa palavra impronunciável. 

A linguagem neutra foi construída por especialistas em linguística como uma alternativa para esse e outros problemas. Pessoas não bináries, por exemplo, não se sentem representadas por "Elx" e "delx", esse x acaba negando nossa existência ao invés de lançar sobre nós uma luz. A discussão do momento é acalorada e muitas pessoas criticam a implementação do uso da neolinguagem por dizerem que vai acabar com o português, que é difícil ou que é modinha. Essas criticas são infundadas e são contraditórias, pois, as mesmas pessoas que dizem isso, utilizam o internetês, sem se preocupar com a estrutura do idioma, sem pensar na dificuldade de compreensão e certamente não aprendeu na escola, ou seja, segue uma tendência, ou uma modinha. ^^

Se pararmos para refletir a respeito do debate a esse respeito, notaremos que trata-se de uma disputa de poder. É um discurso ardiloso construído por uma base ideológica muito bem posicionada; as pessoas integralistas e "tradicionalistas".

Quando usamos abreviações como: tmj, mlk, omg, tnk, ctz, obg, vlw, blz, na internet, não somos questionades a esse respeito, não é visto como uma afronta à língua, não é visto como modinha, frescura ou ideologia.... Mas será que não é mesmo? Na verdade, a relação de poder se dá no choque de culturas onde de um lado temos as pessoas reacionárias e do outro o grupo que propõe essa mudança. Claro que tudo seria mais fácil de aceitar, se a proposta não viesse de um grupo transgênero.

Nós não bináreis, encontramos forte resistências nos espaços e esferas sociais, e quando uma proposta promovida por e para nós toma conta dos meios de comunicação, essa classe especifica de pessoas supremacistas, vê-se no direito de lançar contra a proposta injurias e argumentos rancorosos, contaminando assim uma discussão saudável e pacífica. É interessante notar que em momento algum, a proposta foi lançada com o intuito de substituir a língua portuguesa, até agora, toda a discussão baseia-se na apresentação dessa proposta como meio alternativo de comunicação. 

Vale lembrar que não existe só uma maneira de aplicar a linguagem neutra. Podemos praticar o uso do idioma para substituir palavras que evidenciam o gênero das pessoas e tratar a todes de forma neutra, por exemplo, ao invés de dizer "Você está lindo/linda", você pode dizer "Você está linde", ou ainda pode dizer "Você está deslumbrante". Percebe? Se você é daquelas pessoas que se apega ao padrão binário linguístico, saiba que não precisa abrir mão dele para aplicar a linguagem neutra em seu cotidiano, é uma questão de empatia e prática.

O que está causando todo esse alvoroço ao redor da internet é o fato de que pessoas trans estão apresentando a proposta, e não digo isso como forma de vitimismo, muito ao contrário, estou evidenciando uma relação bruta de poder e demonstrando resistência. 

O uso da linguagem neutra é a forma mais inclusiva encontrada por especialistas em linguagens para que possamos alcançar a igualdade linguística. Isso não quer dizer que ela é perfeita, longe disso. Também não quer dizer que o idioma oficial vai mudar por conta disso, na minha opinião específica, deveria, mas não vai. No fundo, trata-se apenas de uma forma de comunicação que pode ser facilmente assimilada se os discursos ideológicos forem colocados de lado.

Algumas pessoas criticam a discussão sobre essa pauta dizendo que existem coisas mais importantes para serem discutidas. Nós somos seres pensantes, podemos discutir diversos assuntos, não é? Uma discussão não impede que outras aconteçam em outros lugares, em outros meios de comunicação, em outros grupos... Falar de linguagem neutra é falar sobre a questão de gêneros e inclusão, algo que sempre foi problemático no Brasil. Nossa inclusão se parece mais com uma integração, uma separação ou até mesmo uma exclusão. Quando falamos de igualar as importâncias de todos os grupos, atingimos o ponto fraco de pessoas tradicionalistas/integralistas e essa classe não aceita ser contestada. 

Essa que é a grande verdade por trás da discussão a esse respeito. Tudo se trata de relações de poder e de quem está propondo a discussão. 

Beijos da Pri ^^!!! 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Hormonização

 Bem, esse é um texto bastante particular. Vou relatar um pouco da minha trajetória e minhas dificuldades em relação a esse processo. Lembrem-se, essa é minha vivência, minha experiência, não é igual para todes.

A hormonização é um processo medicamentoso que visa adequar os hormônios do corpo de uma pessoa, para que fisicamente aconteçam mudanças desejadas ou esperadas pela pessoa em questão. Muitas mulheres e homens trans e travestis optam pela hormonização visando uma maior passabilidade. Mas o que isso, passabilidade?

Passabilidade é um termo utilizado para definir se uma pessoa possui os aspectos físicos socialmente esperados para uma pessoa de determinado gênero (nesse caso, homem ou mulher). Ou seja, se ela se parece exatamente com a imagem que a sociedade tem de homem ou mulher. A passabilidade não é uma obrigação, é um direito e um desejo da pessoa trans, porém, a sociedade e até mesmo algumas pessoas dentro da comunidade LGBTQPIA+ exigem que a pessoa transgênero tenha passabilidade. 

Isso é bem complicado, pois, o fato da pessoa não ser passável, gera inúmeros desconfortos em sua vida, além do mais, inevitavelmente ela estará exposta a perigos que sabemos que existe. Isso não deveria acontecer, essa imposição da passabilidade, mas acontece e precisa ser desconstruída. 

Nem todas as pessoas trans desejam ser passáveis, cada uma tem seus desejos, anseios e necessidades, e ainda há pessoas não-bináries que muito comumente não se importam tanto com a forma que seus corpos têm. 

Bem, voltando... A hormonização é um processo químico vitalício, ou seja, uma vez iniciado é para sempre. Obviamente, existem casos em que a pessoa por algum motivo, seja clínico, ou financeiro, ou de qualquer outra natureza, precisa interromper esse procedimento. E o que acontece? Bem, até onde vão meus conhecimentos sobre isso, sei que pode ou não haver uma reversão de alguns aspectos, claro que tudo acontece de forma lenta, e outros aspectos, uma vez desenvolvidos, são permanentes. Então, é preciso pensar muito bem a respeito da hormonização e nunca, jamais, em hipótese alguma, optar por um procedimento sem acompanhamento de um profissional da saúde.

Durante os primeiros meses da hormonização acontece um milhão de coisas. Por isso é importante ter acompanhamento médico. Muitas mudanças são perceptíveis por nós mesmes, outras não, só são detectadas através de exames e ignorar esse cuidado extremamente necessário, pode causar sérios problemas de saúde e até uma fatalidade.

Estou no início da minha hormonização. Logo nas primeiras semanas fui tomada por uma neura terrível, chorava sozinha, pensava a respeito das mudanças lentas e de como iria me apresentar para as pessoas, como iria fazer para me "assumir" para as pessoas que já conheço e como faria para mudar a imagem que já possuem de mim, um verdadeiro turbilhão girava na minha cabeça, foi tão intenso que desisti. Joguei os medicamentos fora, me senti arrependida de ter começado e pensava em assumir uma postura cisheteronormativa. Era mais fácil, não daria muito trabalho, não para lidar com a sociedade, entende? Mas em meu intimo, estava magoada comigo mesma, e não sabia o motivo real. Acontece que depois de muitíssima reflexão, eu decidi retornar à hormonização, mas dessa vez, com toda certeza do mundo.

Antes dessa pausa eu tinha um corpo imaginário que desejava conseguir, hoje não. Não tenho muitas expectativas, prefiro pensar nesse processo como uma longa jornada. Um desafio para mim mesma, como tentar escalar o Everest, até onde conseguir chegar está ótimo. Mas entenda que isso não veio do nada. Tive de ser sincera comigo mesma, tive de avaliar meus medos e meus preconceitos, tive de pesar as relações que tenho com amigos, familiares, colegas de trabalho e etc. Não é um processo fácil, não é rápido, mas está sendo muito satisfatório. Eu exclui da minha lista de contatos muitas pessoas que se mostraram avessas a minha transição, desconectei-me de inúmeros familiares e me aproximei de pessoas com mais empatia, é importante ter essa percepção. Sabe, durante muito tempo fiquei preocupada com a questão familiar, porém, depois entendi que família não são as pessoas que possuem o mesmo tipo sanguíneo, que compartilham do seu DNA, mas sim pessoas que te apoiam, que te amam, que torcem por você e que nunca te abandonam, ter seu sangue até mosquito tem. Amigues, você escolhe, acredite. Não tem motivos para você manter uma amizade tóxica, que só te faz sofrer, que te reduz, que te impede de ir em frente... Escolha suas amizades.

Bem, e por que eu optei pela hormonização se me identifico como uma pessoa não-binárie? Então, como disse mais acima, pessoas não-bináries, de um modo geral, não possuem um padrão definido de corpo atrelado ao gênero, nós não-bináries temos desejos e expectativas em relação aos nossos corpos, no entanto, eles não correspondem ao padrão cisnormativo. Sim, isso quer dizer que há possibilidade de você conhecer uma pessoa não-binárie com nome feminino e que use pronomes femininos, mas que possua barba, ou uma pessoa que se use os pronomes masculinos, mas que possui características ditas femininas. Gênero não tem a ver com corpo, nem com sexualidade, é importante esclarecer isso. Então, percebendo que meu corpo de nascimento não me agradava, decidi me hormonizar.

Eu me sinto bem quando uso e quando usam comigo, pronomes neutros e femininos, e quero desenvolver características físicas com as quais não nasci, mas sem predefinição. No meu caso específico, sei que por conta da idade, muitas características que eu desejava, não serão alcançadas, mas como disse, não me apego mais a isso, se vier, maravilha, se não vier está tudo bem. E ainda falando sobre meu caso específico, quero fazer uma cirurgia para diminuir a cartilagem da traqueia, mas isso é um capricho estético meu.

Seria muito hipócrita da minha parte se dissesse que estou feliz com meu aspecto atual, não estou. Por conta disso, estou sempre experimentando processos estéticos, enaltecendo minha vaidade e mudando minha aparência, ainda não achei meu rosto ideal, mas sigo tentando. Uma coisa que percebi foi a relação que tenho com meu cabelo, fico muito triste quando por algum motivo não consigo ir ao salão fazer aquele retoque básico. Mas isso não tem a ver com a hormonização em si, isso é um desejo pessoal, é uma necessidade de foro intimo.

Existem tantas regras impostas na sociedade, que as pessoas acabam nem vivendo suas vidas com medo de retaliação, ou isolamento, ou coisa pior. Nós vivemos acovardades sob as regras de uma sociedade hipócrita e mesquinha, que institui padrões o tempo todo e nos obriga a seguí-los sem se importar com o que realmente desejamos, a todo momento são criadas pseudonecessidades e despejadas sobre nós, e nós, complacentes, aceitamos tudo. Por muito tempo... Mas agora não dá mais. Eu tenho uma forte convicção de que precisamos viver nossas vidas do jeito que queremos, sem fantasiar, sem se esconder e sem represálias. Claro que não vivemos num conto de fadas e para conseguir isso, precisamos suar mais que as pessoas conformistas. Temos barreiras monumentais pela frente, mas precisamos entender imediatamente, que não estamos sozinhes, unides podemos transpor essas barreiras, devagar, com consciência, com segurança e com muita solidez.

Quando eu falo sobre enfrentar os padrões sociais, não estou estimulando as pessoas a saírem nas ruas afrontando toda forma de opressão, sozinhe, de peito aberto e sem calcular as consequências. Mas não podemos nos acovardar. Existem mecanismos que podemos usar em nosso cotidiano para mostrar para as pessoas que existem outras realidades e que elas devem ser respeitadas. Cada ume precisa lutar, fazer sua parte, mas não queremos que ninguém arrisque sua vida de forma displicente, né?

Antes de começar a hormonização, eu já cuidava dos meus cabelos, esporadicamente ia para a escola com as unhas pintadas de cores bem marcantes como : vermelho, prata, rosa e branca. E isso gerava muitos questionamentos e comentários, mas eu não me importava com isso não. O que mais me chateia na escola, é a definição estrutural de deveres e direitos masculinos e femininos, acho isso um absurdo. E inúmeras vezes briguei por conta disso, apresentando ideias que rompiam esses preconceitos, mas nunca foram colocadas em prática, afinal, as diretoras com quem trabalhei, apesar de serem boas profissionais, nesse aspecto são muito retrógradas. 

Bem, mas por que estou falando essas coisas? Para que vocês tenham noção que a transição não se inicia na hormonização. Ela inicia no momento em que você passa a questionar seu gênero. E a partir desse momento, o caminho rumo a sua ascensão está posto à sua frente. Alguns caminhos são mais curtos e mais rápidos, outros não. Mas isso não é uma corrida, não existe um tempo limite para se fazer esse caminho, até porque ele só acaba quando você morre. Então, não precisa se desesperar, não precisa se chatear porque os resultados estão demorando e tal. Tudo ao seu tempo e sempre supervisionado por sue médique.

Antes que perguntem... Não vou colocar a lista de medicamentos que tomo em minha hormonização, justamente para não incentivar uma medicação por conta própria. Cada caso é único e deve ser analisado por uma pessoa especialista no assunto. Ah, antes que eu me esqueça, eu faço todo o acompanhamento pelo SUS, então não precisa ficar desesperade com a questão financeira. 

Peço desculpas pelos pensamentos aleatórios que surgiram no meio do texto, mas minha cabeça é assim, toda bagunçada. rsrsrs

Biejos da Pri ^^!!!

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