quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dilemas sobre os banheiros para transgêneros


 Esse é um tema discutido aos quatro ventos e geralmente com abordagens completamente insanas.

O acesso ao banheiro de um estabelecimento ou instituição é direito de todes que o frequentam. Muitas pessoas abordam o tema com preconceito, o que não pode acontecer numa sociedade democrática. 

O uso do banheiro adequado por transgêneros é legal, e qualquer impedimento nesse sentido é passível de ação judiciária. 

Pessoas trans geralmente não usam o banheiro fora de casa, mas não fazem isso por opção, e sim temendo algum tipo de violência física, moral ou psicológica, e também algum vexame. 

A polêmica dos banheiros vai muito além das identificações e de quem a elas correspondem. Quando uma pessoa é impedida de usar um banheiro coletivo, isso faz também com que sua presença no local a que esse banheiro se encontra, também seja limitada e intrinsecamente indesejada. A pessoa não se sente livre, aceita, não se sente à vontade naquele ambiente. Muitas vezes ela acaba se retirando do local e deixando de frequentá-lo.

A maior parte das vezes que pessoas trans são impedidas de usar os banheiros em segurança, ocorre nas escolas, faculdades, locais de trabalho e espaços coletivos. Reflita sobre isso.

Se a pessoa está impedida de acessar um espaço comum do ambiente em que está, por que ela continuaria indo lá? Em qual espaço ela é bem-vinda? Então, geralmente elas param mesmo de ir, e isso aumenta a desigualdade entre as pessoas socialmente favorecidas e as não favorecidas.

É comum adolescentes trans abandonarem as escolas por não se sentirem acolhides. O mesmo acontece em faculdades. Podemos extrapolar essa limitação do acesso ao banheiro para vestiários, por exemplo, o que pode nos remeter às práticas esportivas escolares, ou momento de troca antes ou depois do turno de trabalho, ou das aulas. Percebe? 

A questão é muito mais profunda. Quando uma pessoa é impedida de frequentar esses espaços, subjetivamente ela está sendo expulsa do local como um todo. E esses ambientes que citei, são essenciais para o desenvolvimento de uma pessoa, para que ela possa construir seu futuro e usufruir de seus direitos fundamentais "inalienáveis". 

Então a questão não é somente o acesso aos banheiros, mas o acesso livre ao ambiente como um todo e de forma segura. Assim como é garantido às pessoas cis.

No caso de adolescentes que são impedides de acessar o banheiro por conta da definição de gêneros, também se torna inacessível a quadra, pois, este é um ambiente onde existe uma clara divisão entre gêneros, além de outros espaços, com isso a escola se torna cada vez mais desinteressante e o abandono se torna consequência.

No trabalho dê professore Lucas Dantas, sobre os corpos dissidentes, é explicado essa relação de poder e soberania de gêneros que há nas instituições. Os corpos que fogem da normatividade padrão geralmente são expulsos dos ambientes de forma violenta e consensual por parte da sociedade.

Ouvi pessoas discutindo sobre o assunto e defendendo a ideia de um banheiro exclusivo para transgêneros. O que é isso, um Apartheid? Já é um absurdo separar banheiros por gêneros, ainda criar um para trans, isso é inconcebível. 

Banheiros são lugares onde as pessoas vão para fazerem suas necessidades, não deveria existir a preocupação disso ou daquilo. Nas casas onde vivem várias pessoas de gêneros diferentes, existe um banheiro para cada gênero? Não, né? Em casa o indivíduo respeita a privacidade e a existência da outra pessoa, mas fora de casa não? Como? Não consigo ver a lógica disso.

Grande parte das discussões preconceituosas apontam as mulheres trans como pervertidas, e homens trans como vítimas de estupro em potencial. Percebe a lógica macabra que ronda essas discussões? O banheiro masculino é perigoso para homens trans, porque os homens cis atentarão contra ele. Então o problema não é o banheiro, e sim a cultura do estupro e a negação da identidade alheia. A mulher trans tem sua existência anulada pelas pessoas, que a tratam como homem vestido de mulher e ainda é acusada de perversão. O problema então está na sociedade que ensina às pessoas concepções erradas de gênero e de respeito.

Homens trans e cis, são homens. Mulheres trans e cis são mulheres. Não existe outra definição. Porém, a sociedade é perversa e ainda vê as pessoas trans como pessoas cis fingindo ser outra pessoa. E esse tipo de pensamento gera desrespeito, violência, traumas, exclusão e desigualdade.

A polêmica do banheiro vai muito além das cabines, ela abrange todos os espaços frequentados pelas pessoas trans e a construção binária de gêneros.

Esse tipo de pensamento sectarista precisa ser combatido o quanto antes.


Beijos da Pri!  

2 comentários:

  1. Sempre tive esse "incomodo" com essa separação, tanto que sempre usei o banheiro que estivesse livre! Causo um horror no povo todo! Nem ligo, além de sanar minhas necessidades, deixo meu recado! Mas a sociedade é realmente cruel. As pessoas não se preocupam umas com as outras. Isso precissa mudar!!!
    Pri, vc é uma inspiração pra mudar esse mundo!
    #soufã 🧡💛❤💜💙💚🖤🤍😘

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    1. Ouunt! Ficarei mimada com seus comentários.
      Mas, sim, realmente precisa mudar, e rápido.

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