sábado, 28 de novembro de 2020

Como lidar com não-bináries?



Se esta é a primeira postagem sobre não-bináries que você lê nesse blog, talvez seja melhor começar pelas anteriores, depois volte aqui sem problemas. Mas se quiser prosseguir, sem problemas também.

Como dito antes, pessoas não-binárias são pessoas que rompem a lógica de gênero binário, ou seja, não se enquadram num espectro definido binário.

Algumes não-bináries utilizam preferencialmente a linguagem neutra/neolinguagem/linguagem inclusiva, já outres mesclam o português com a neolinguagem (tipo eu) para se comunicarem. É importante atentar-se a esse detalhe, pois, se a pessoa usa preferencialmente os termos neutros é porque os termos binários a incomodam, e não é legal manter uma pessoa numa situação desagradável, não é?

Caso você não entenda muito bem, ou desconheça o uso da linguagem neutra, pergunte para a pessoa com quem conversa quais termos você pode usar com ela, certamente, chegarão a um acordo razoável para ambes.

Pessoas não-binárias nunca podem ser vistas como homem ou mulher, mesmo que seus corpos possuam a forma estereotipada que você compreende como masculino ou feminino. O gênero de uma pessoa é invisível aos olhos, é uma base essencial particular e única. Então, quando encontrar ou lidar com uma pessoa NB não a trate pelo estereótipo físico, pois, você pode estar magoando uma pessoa e ainda cometendo um ato de transfobia.

Aceite a explicação da pessoa, ouça-a, ela é não-binária e não você, então ela sabe do que está falando. 

Quando for falar da pessoa e ela não estiver presente, trate-a de acordo com os pronomes que seriam usados na frente dela. Nunca, nunca mesmo, se refira a uma pessoa trans ou não-binária de acordo com sua lógica, mesmo que ela não esteja presente.

Tá bom, Pricila, mas e como é que se usa essa linguagem neutra? 

Geralmente altera-se algumas vogais que masculinizam ou feminizam a palavra por outras vogais neutras. Por exemplo: A e O podem ser trocadas por E, U ou I.

Bonito/a = Bonite, Cheiroso/a = Cheirose, Educado/a = Educade.

Ele/a = Elu/Ili, Dela/e = Dili/Delu

Algumas substituições são um pouco mais complexas, pois, mexem na estrutura da palavra, mas nada que você não se adapte. Por exemplo:

Amigo/a = Amigue, Psicólogo/a = Psicóloque, Romântico/a = Romântique, Vilão/ã = Vilém/vilane.

Existem formas de comunicação onde você pode neutralizar a frase modificando-a. Por exemplo:

Você está linda/o = Você está radiante. O Gê foi buscar água = Gê foi buscar água. Você é corajoso/a = Você é uma pessoa corajosa.

Certamente você deve estar se questionando a respeito do uso do @ ou X para substituir as vogais de gênero. Então, o que acontece é o seguinte... Quando se usa caracteres como @ e X você está prejudicando mais que ajudando. Primeiro que a palavra se torna impronunciável, isso afeta a leitura de pessoas com dislexia e com diversidade funcional que usam aparelhos para lerem por elas. Então só na leitura você exclui pessoas de baixa visão e pessoas com dislexia. E no campo da pronuncia, bem, exclui todes, já que não temos sons para essas palavras. Isso acaba invisibilizando a pessoa e o gênero a que se refere, ou seja, bem o contrário de inclusão.

Mas isso são regras, você pega isso com o tempo ou com um pouco de pesquisa. Aliás, vou deixar aqui no final do texto, um manual da neolinguagem, o qual poderá ser usado para prática e pesquisa.

Você deve ficar atente também ao nome que a pessoa lhe apresenta. Sim, pois, talvez você conheça a pessoa desde algum momento da vida dela onde ela não havia revelado sua transgeneridade, e portanto, não se apresentava com o nome escolhido por ela. Caso você conheça a pessoa há bastante tempo, esqueça o nome de batismo/registro dela. O nome a ser usado será o que ela escolheu, e isso vale para quando ela estiver presente ou não, e também para quando for contar algo sobre a pessoa de épocas onde ela ainda não usava esse nome. Sim, o nome social ou nome retificado deve preencher completamente o espaço de nome da pessoa, seja no presente ou no passado.

E nunca, nunca mesmo, revele o nome antigo de uma pessoa trans. Isso pode acarretar diversos problemas nela e alguns para você também. Quebra de sigilo pode lhe render uma audiência indesejada, além de mostrar ao mundo que você é uma pessoa cruel e desumana. 

O nome social ou retificado de uma pessoa é o nome real dela. Perguntar qual é o nome de verdade das pessoas é uma ofensa grave.

Acho que você conseguiu entender que para lidar com NBs é necessário somente empatia, certo? 

Bem, algumas identidades não-binárias requerem um pouquinho mais que isso. Como disse antes, algumas identidades possuem dois gêneros ou mais ao mesmo tempo, algumas mudam de tempos em tempos e isso é importante de ser compreendido e respeitado.

Para pessoas de gênero fluído, preste atenção a como a pessoa se dirige a si mesma e caso lhe reste dúvidas, pergunte como ela quer ser chamada naquele momento. Não cabe a você fazer comentários, julgamentos ou perguntas desnecessárias, apenas cabe a você respeitar.

Algumas pessoas não-binárias possuem uma expressão de gênero fixa, e essa expressão pode ser andrógina, masculina ou feminina, mas lembre-se, não somos obrigades a possuir uma ou outra expressão de gênero, nós usamos a que mais nos agrada. Algumas pessoas NB possuem expressão de gênero variável, e essas merecem um pouco mais de cuidado da sua parte, pois, para quem não está acostumade a lidar com a situação, pode facilmente ser iludide pela aparência física, vestes, trejeitos e acessórios que a pessoa expressa ou mostra, e isso pode estar bem longe da realidade. Caso conviva com ume NB que possua essa fluidez de gênero ou de expressão de gênero, atente-se sempre ao modo como Elu se refere ê elu mesme, e no caso de dúvidas... Pergunte.

Quero deixar claro que é comum acontecerem erros de tratamento, no início de tudo o que é novo, a gente estranha, a gente erra, mas não da para ficar assim para sempre. Não negligencie as formas de tratamento e as vivências das pessoas. Tente aprender um pouco sobre elas e logo você verá que tudo é só uma questão de adaptação. Eu digo isso, porque convivo com pessoas que simplesmente ignoram as informações que passo a elas, e tenho que corrigi-las a cada frase, isso é desgastante e irritante. Tanto, que acabo me afastando dessas pessoas, não por arrogância ou imposição, mas porque noto que a pessoa não se importa comigo e nem com minha existência, a única realidade é a dela, e bem, sabemos o quão intragável é esse tipo de pessoa.

Resumindo, lidar com pessoas não-binárias é igual lidar com qualquer pessoa, exige paciência e empatia. Não é difícil, não é?

Espero ter ajudado. Caso precise de mais informações não deixe de perguntar, pode ser por aqui ou pelas redes sociais, estou à disposição. ^^

Beijos da Pri!!!

Este é o link que prometi. 

Guia para neolinguagem


2 comentários:

  1. Puts que texto bom. Eu não entendo muito, vc sabe. Mas cada vez que leio algo seu, eu aprendo algo novo.
    Muito obrigado por me fazer ver o outro lado da parada.
    Continue sempre assim, foda do jeito que é.

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    Respostas
    1. Ninguém sabe o suficiente, amigo.
      Todes estamos aprendendo, para sempre.
      Fico feliz que tenha podido lhe auxiliar de alguma forma.

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