domingo, 20 de setembro de 2020

Gelo Fino

 




Gelo Fino, 2020

Este conto de ficção científica foi lançado como forma de degustação da antologia Fictesia, a qual ele pertence. Escrito usando a linguagem neutra. 

Gelo fino narra o cotidiano de uma tripulação de uma nave espacial, presa num planeta deserto e gelado. com o passar do tempo, as pessoas começam a se convencer de que não mais sairão dali, e isso faz com que estreitem os laços entre si e passem a viver de forma mais orgânica. 

Ê Capitane Naida é uma pessoa não-binárie, assim como outres tripulantes, o conto usa formas de tratamentos neutros para a maioria das personagens. Isso não é um mero acaso. Foi escrito pensando na representatividade, escrito por e para pessoas não-bináries, obviamente todos os públicos podem lê-lo, e com certeza apreciá-lo, mas a população NB se sentirá representada, respeitada e valorizada com este conto.

Alias, a antologia Fictesia é uma obra com muita representatividade. Diversos grupos sociais são retratados na obra, são representados de maneira valorosa e respeitosa, como forma de homenagem e acolhimento.

Beijos da Pri! ^^


Link de aquisição: Gelo fino kindle/amazon 

Link de  Aquisição da antologia: 

Fictesia livro 1

Link para consulta do manual de linguagem neutra:  Guia para linguagem neutra






Pessoas trans assassinadas no Brasil

 Todes nós sabemos que o Brasil é um dos países onde acontecem mais assassinatos de pessoas trans, mas como isso afeta diretamente a população? Como o povo vê isso?

Não vê. Simples assim. A mídia sexista, machista, burguesa, transfóbica e racista, oculta o quanto podem os casos de violência contra uma enorme parcela da sociedade. Às vezes, um caso ou outro aparece em grandes veículos de mídia, ou porque teve grande repercussão ou porque é interessante para alguém que não pertence à classe violentada.

De acordo com o site antrabrasil, somente neste ano de 2020 entre os meses de janeiro e fevereiro tivemos um aumento de 90% nos números de assassinatos de pessoas trans e travestis em relação ao ano passado. Parece pouca coisa quando falamos em números, mesmo quando dizemos que a cada três dias, uma pessoa trans ou travesti é assassinada no país.

A violência está diretamente ligada a um discurso de ódio que se espalha cada vez mais por entre as camadas sociais. Esse discurso vem disfarçado de valores familiares, crenças religiosas e determinismos biologizantes, no entanto, nada disso faz sentido de fato, a única coisa que se mostra verdadeira para garantir que essa violência continue é a ignorância e a falta de empatia.

Vimos nos últimos anos inúmeros movimentos sociais ganhando força nas redes sociais e pela internet à fora, mas há algo que me incomoda profundamente. A participação de pessoas cisgêneras e heterosexuais nessas movimentação, ou seria melhor dizer, a não participação dessas pessoas nos movimentos.

Não estou aqui para diminuir luta alguma. Todas as lutas que visam o bom convívio social, o aumento da empatia e o respeito ao próximo, é uma luta válida e necessária. No entanto, parece que as causas LGBTQPIA+ parecem desnecessárias aos olhos da população. 

O número de pessoas que protestam contra o aumento da passagem nos transportes coletivos é infinitamente maior que as pessoas que protestam contra os direitos negados à população LGBTQPIA+, e isso não é uma estimativa, é uma constatação. As pessoas parecem lutar somente por aquilo que lhe afetam diretamente. Mas ignoram o fato que a luta de um é a luta de todes.

Quando um homem negro morreu brutalmente sufocado nos EUA por policiais, a sociedade se levantou e gritou por todos os canais imagináveis que vidas pretas também importam. Isso foi mágico, porém, tudo durou poucos meses em alguns países, em outros, só algumas semanas, e pronto, ninguém mais se importa com as pessoas pretas da mesma forma como quando estavam protestando.

Esse tipo de movimentação coletiva não acontece quando uma pessoa trans ou travesti é assassinada. Só esse ano, até o mês de agosto, foram registrados 129 casos de assassinatos contra a população trans e travesti, e você viu alguma comoção coletiva por alguma delas? Não. Por quê?

Pode parecer premeditado dizer isso, mas a população nacional é guiada por ideologias transfóbicas, misóginas e racistas, e por conta disso, violência contra mulheres, pessoas pretas e pessoas trans é completamente invisibilizada. É como se não fossemos importantes para a sociedade, é como se não existíssemos. 

Sempre vejo pessoas cis cobrando a participação de pessoas trans nos movimentos sociais, mas não as vejo levantando nossas bandeiras. Não precisa ser preto para lutar contra o racismo, não precisa ser LGBTQPIA+ para lutar conta homofobia e transfobia, não é necessário ser mulher para lutar contra o machismo, só é necessário empatia.

Mas não temos isso de vocês, pessoas cis. Não vi empatia quando uma travesti foi morta à pauladas no meio da rua com várias pessoas assistindo e fotografando para postar depois, não vi empatia quando uma moça trans foi morta e teve seu coração arrancado pelo assassino, não vi empatia ou comoção quando uma travesti com mais de cinquenta anos teve sua residência invadida e foi assassinada à facadas dentro de casa, não vi nenhuma comoção ou sinal de empatia quando o namorado matou a namorada trans em Mairinque, ou quando Branca foi morta a tiros no Ceará.

Compreendem a gravidade da situação? Nós pessoas trans e travestis estamos expostas à violência gratuita unicamente por sermos quem somos. É algo inconcebível em qualquer nível de sociedade. A empatia e o respeito deveria ser a base de toda e qualquer sociedade, e não o ódio e a exploração.

São Paulo é o estado campeão em assassinatos da população LGBT no Brasil. Uma grande metrópole, com uma diversidade gigante e ainda assim, encontra-se uma imensa dificuldade de viver sua própria vida, ser quem você é e se expressar assim, pois, a violência dita a vida das pessoas.

Sabe, as pessoas precisam entender urgentemente que quando lutamos por um grupo, estamos lutando por todos os outros. Estamos dizendo à ideologia dominante "Não!", e isso é muito poderoso. Toda vez que permitimos que um grupo seja prejudicado pela sociedade, estamos permitindo que o grupo ao qual fazemos parte também seja prejudicado. 

A ideologia dominante é muito segregacionista e procura minar os meios de expressão e ditar a forma do convívio social, pois, isso é interessante para manter algumas pessoas no poder. Se permitirmos que exterminem os indígenas, que roubem completamente suas terras, estaremos dizendo à essas pessoas que, todo e qualquer grupo está sozinho e é um alvo em potencial para "ELES". Quando deixamos de lutar ao lado das pessoas pretas, estamos abrindo mão de direitos nossos também, e assim o é com os direitos LGBTQPIA+, das crianças, dos idosos, dos trabalhadores, das mulheres e etc... Até que não reste mais grupos para perder seus direitos. 

As pessoas possuem a pecha de acreditar que a luta do outro não lhe interessa, mas interessa sim. Você não luta pelos gays, pelos pobres nem pelos pretos, porque você é hétero, branco e classe média, mas quando chegar a sua vez, você vai pedir ajuda de quem? Será que ainda restará alguém a quem se valer? Será que alguém vai lhe ajudar, visto que não ajudou ninguém? 

Éh... Complicado não é mesmo?

Os assassinatos de pessoas trans e travestis são o resultado de uma forte ideologia de pureza hipócrita, totalmente transfóbica e sem nenhuma razão para existir. Hoje, com as mídias e as redes sociais dominando o modo de vida das pessoas, o ódio às diferenças cresce muito rápido e acaba gerando muitos conflitos meticulosamente arquitetados. O problema é que isso nunca tem fim, é um círculo vicioso, onde hoje se odeia o preto, amanhã se odeia o muçulmano, depois de amanhã se odeia os franceses, semana que vêm odiaremos a raça humana como um todo. 

Precisamos acabar com o ódio. A única maneira disso acontecer é nós nos unirmos, independente do grupo ao qual pertencemos, pois, acima de todos os grupos e classificações, somos humanos. E até onde se sabe, somos únicos no Universo, somos a coisa mais rara que existe, somos dignos de adoração, veneração, contemplação e amor. Todo ser humano é um mistério universal, é um ser incomparável, e não podemos odiar algo assim.

Beijos da Pri!


#amorsemlimites #vidastransimportam #chegadeviolencia    

Memórias Tupinambás




 


Memórias Tupinambás, 2019


Este livro é inspirado num fato histórico ocorrido no Século XVll, onde hoje é o estado do Maranhão.

Narra de forma muita clara e lúcida o choque de cultura entre os indígenas e os colonizadores, diferenças essas que repercutem até os dias atuais.

Moacir, o protagonista, é um "mestiço" que vive num forte português onde aprende sobre religião, caça e expansão territorial, porém, fora do forte ele tem a mãe, que vive numa aldeia com costumes totalmente opostos.

Exposto a essas duas formas de viver, Moacir se vê encurralado e necessitando tomar uma decisão de qual cultura ele quer eleger como prioritária em sua vida. 

Todas as ações, todos os pensamentos, todas as experiências do rapaz serão colocadas à prova quando ele presenciar um episódio traumático e até então, medonho para ele.

Beijos da Pri!

Link de aquisição: https://www.amazon.com.br/dp/B0825JMTPY 

#apoiealiteraturanacional #apoiealiteraturalgbt 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Ascensão

  


Ascensão - Pricila Elspeth, 2018

Sinopse: Desde muito cedo, Hélio sentia que algo estava errado no mundo ao seu redor. No entanto, com o passar do tempo, ele percebeu que não havia nada de errado com o mundo, ele estava como sempre foi: hipócrita, fétido, cruel, corrupto e preconceituoso; o problema estava com ele. Hélio entendeu que o que lhe incomodava era uma questão de fofo íntimo, então é onde tudo começa a mudar em sua vida. Toda a realidade cristalizada que ele conhecia como vida, desmorona como num passe de mágica e agora ele precisa caminhar sobre os cacos dessa estrutura a ele imposta, buscando sua ascensão.

Sobre este livro: Eu comecei escrever essa obra logo que conheci o wattpad. Publiquei alguns capítulos lá e a obra foi bem aceita, elogiada e premiada. A motivação por trás dessa obra é simplesmente representatividade e reflexão. Queria que através da história do Hélio, as pessoas pensassem a respeito da vida das pessoas transgêneros e se empatizassem com essas pessoas, que tanto sofrem na sociedade simplesmente por serem quem são. Então, todas as reflexões e situações do livro não são só ficção, são reais, não com uma única pessoa, mas com milhares, todos os dias.

Eu como uma pessoa não binárie sinto a falta de obras escritas por nós da população LGBTQIA+ para nós mesmes e para o público em geral. Todo ser humano deveria ler obras assim para ter contato com o outro lado da vida.

Beijos da Pri!

Link de aquisição: https://www.amazon.com.br/dp/B0825KLTJ4 



quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Existem crianças trans?

Bem, vamos por partes.

A criança durante muito tempo não possui uma identidade de gênero. Ela segue exemplos, repete o que ouve, e armazena informações, isso não quer dizer que essas informações ou exemplos lhe servirão de parâmetros para sempre. Uma criança na primeira infância simplesmente “É”, ela não tem consciência de uma identidade de gênero, não sabe de sua sexualidade e nem se importa com isso.

No entanto, após certa idade, a criança passa a se identificar com alguma identidade de gênero com o qual tem contato, mesmo que seja virtual, e a partir desse momento ela passa a se compreender sob aquele espectro de gênero, entenda que o que estou dizendo aqui, é que a criança depois de despertar sua sexualidade, sua identidade de gênero, ela buscará em seu entorno, padrões para se apoiar.
Algumas vezes, a criança usa palavras e frases ensaiadas e ensinadas a ela, mas isso não necessariamente representa sua realidade.

Uma criança não conhece gêneros, não está inserida nas discussões a esse respeito, no entanto, ela desenvolve sua própria identidade de gênero, e por questão de assimilação, acaba se aproximando de alguém que ela vê, mesmo que seja uma personagem de desenhos. Mais tarde, ela poderá trabalhar melhor essa questão e se desvincular ou não, daquela figura que lhe serviu de base para estruturar sua identidade.

A transgeneridade pode ser percebida numa pessoa quando ainda é criança, ou depois de algum tempo… O grande problema é que, muitas vezes, as pessoas não são cisgêneras, mas por coerção acabam vivendo sob essa imposição e somente depois de ver outras referências e conseguir informação, compreendem quem são de fato, e dependo do estágio de sua vida, a transição torna-se extremamente complexa, pois, a pessoa já possui vínculos sociais, carreira, compromissos, uma identidade social, etc. E não encontra apoio para se desvincular dessas correntes. Sim, existem muitas pessoas não cisgêneras que vivem sob um espectro de gênero com o qual ela não se identifica. Chamamos isso de cisgeneridade compulsória.

Mas vamos voltar às crianças…

Durante os primeiros anos a criança não se importa com sua sexualidade, ela nem mesmo se reconhece com uma, e isso não faz diferença para ela, tudo o que ela quer é brincar, se alimentar, conforto e explorar o mundo ao seu redor.
Muitas crianças despertam cedo uma percepção de seu próprio ser, porém, muitas vezes são podadas e acabam se confinando dentro de uma moldura social, ou o armário, como dizem.

Ninguém tem o direito de dizer a outrem quem elu deve ser. Quando lidamos com crianças, não podemos incutir nela nossos valores, nossos anseios e preconceitos. Tudo o que temos a fazer é ouvir a criança, entender o que ela está trazendo até nós e procurar apoiá-la no que for preciso para que ela seja feliz e se desenvolva plenamente.

Parece papo de educadora sonhadora, mas é um pouco mais que isso.
Jamais podemos corrigir uma criança quando ela se denomina como algo que ela se identifica, obviamente precisamos dar a ela uma orientação, mas essa orientação não pode vir atrelada a uma ideia de conversão, nunca!

Então, crianças transgênero existem. Existem e precisam de atenção, respeito e orientação. Por isso é importante sempre nos mantermos atualizades a respeito do que está rolando ao redor do mundo, os discursos que estão surgindo e mesmo que não faça parte de nossa vivência, entendê-los e respeitá-los.

Ser uma pessoa trans não é uma questão opcional, é uma questão de essência. Você nasce com essa essência, e no decorrer da vida, você externaliza ou não. Ninguém optaria trocar uma estimativa de vida de 70/75 anos por uma de 35 anos. Ninguém gostaria de trocar a segurança hétero e cisgenera sob a qual foi colocade, para ser alvo de preconceito e violência. Acontece, que ser quem você é, de verdade, vale todos os sacrifícios.

Muitas pessoas acreditam que cada grupo deve lutar por seus direitos, por seu espaço e visibilidade, no entanto, é bem o contrário disso. Toda a sociedade precisa apoiar todos os movimentos sociais que visam a melhoria da convivência humana. Cada vez que viramos as costas para uma causa, estamos colaborando com a opressão, e os opressores não conhecem limites. Hoje, eles tiram os direitos da população preta, amanhã da população LGBTQIA+, e semana que vem será o seu grupo. Então, precisamos nos unir como seres humanos, nos respeitarmos e lutar juntes, pois, se um grupo cai, enfraquece a luta e logo todos cairão. 
 
Beijos da Pri!!! ^^ 

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