terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Visibilidade trans

 


Olá pessoas, como vão? Espero que tenham conseguido tirar o melhor possível de suas situações vividas nesses tempos de caos, loucura e pandemia.

Como devem saber, estamos no mês da visibilidade trans e por conta disso gostaria de fazer algumas reflexões aqui.
Nesse mesmo mês, Janeiro de 2022, temos mais uma edição do BBB, aquele programa de televisão que confina pessoas e as treina para pandemias vindouras, rsrs, tá, brincadeiras à parte, aquele programa de "entretenimento".
E nessa edição temos a segunda participante trans, que se trata de Linn da Quebrada.
Linn é uma travesti, ou seja, uma pessoa não-binária com identidade feminina travesti, pegou?

Bem, não é segredo para ninguém e também não há surpresas quando dizemos que Linn está sofrendo transfobia forte no programa. Vários participantes usam os pronomes masculinos quando vão se referir a Linn, isso porque a mulher ter ELA tatuado na testa, literalmente. 
Muitas pessoas a tratam no masculino e pedem desculpa logo em seguida, isso depois da milésima vez. 
"Amiga, não dá pra continuar errando." - disse Linn para uma participante após quatro dias de confinamento e a mulher errando insistentemente seus modos de tratamento.

Guardem essa informação.

As irmãs de pau, uma dupla de cantoras trans da resistência, periféricas e que trazem letras provocantes e também um pouco escrachadas, tiveram sua página do YouTube removida por conta de uma imensa quantidade de denuncias. Desnecessário dizer que os transfóbicos de plantão se mobilizaram para derrubar a página das meninas. O que é mais absurdo é que essa ridícula plataforma aceita denuncias para derrubar paginas de pessoas LGBTQIAP+, mas não aceita as denuncias de pessoas que fazem conteúdos ofensivos à nós, estranho não?

Pois bem, vamos lá! Esses dois casos elucidam muito bem a nossa luta. De um lado temos uma dupla trans que batalha cotidianamente para levarem sua arte ao publico, mais que isso, levarem a imagem delas, de mulheres trans batalhadoras, que não receberam nada de mãos beijadas, que ralam e se desdobram para subir um degrauzinho de cada vez rumo ao seu merecido lugar ao sol, porém, essa luta é invalidada por plataformas sem diretrizes sérias, que aceitam denuncias em massa sem um fundamento verdadeiro, mas não aceitam denuncias reais, de conteúdos que prejudicam a vida das pessoas. 
Do outro, temos a também cantora Linn da Quebrada tendo sua identidade invalidade insistentemente em rede nacional e ao vivo, todos os dias. Linn também veio de baixo, teve de lutar por seu espaço, e agora que possui visibilidade busca denunciar as maquinações do sistema opressor através de suas vestes, de suas músicas e de suas falas, que mais parecem aulas de cidadania.

O mês da visibilidade trans foi criado a partir de um movimento de pessoas trans reunidas em Brasília, que foram lutar por direitos, os quais lhes eram sumariamente usurpados. Esse movimento "Travesti e Respeito" foi realizado em 2004, e então instituiu no dia 29 de Janeiro, o dia da visibilidade trans e Janeiro tornou-se o mês da visibilidade trans para que campanhas nacionais fossem lançadas a fim de promover visibilidade para a população T e disseminar as conquistas obtidas através das esferas políticas, claro que toda essa campanha serve para educar e conscientizar a população geral sobre nossas lutas e nossos obstáculos.

Repare que nos dois casos citados as pessoas são invalidadas e desrespeitadas sem apoio imediato da mídia ou dos órgãos de poder. Porém, pastores evangélicos que demonizam a população LGBTQIAP+ em seus canais no YouTube, recebem cada vez mais likes e a plataforma simplesmente ignora as denuncias feitas contra eles.

O mês da visibilidade trans existe para que através de campanhas midiáticas possamos trazer ao público geral nossa situação cotidiana. Tudo o que sofremos diante dos olhos da população cis e eles nem notam, ou fingem não notar. 
Já ouvi dizerem que é um "drama" a gente reclamar, se enfurecer, ou entristecer, quando erram nosso nome ou nosso pronomes. Será mesmo que é um drama? 

Imagine que você tem alguém que você ama muito e essa pessoa morreu de Covid. Aí todo dia que eu te encontro eu pergunto como está essa pessoa, você sempre me responde a mesma coisa, que a pessoa morreu, que se sente mal quando falam dela, aí eu peço desculpas e vou embora para no outro dia fazer a mesma pergunta.
Ou imagine que você tem uma amizade de infância. Essa pessoa perdeu as pernas num acidente. Agora você vai apresentar essa pessoa para um grupo de amigos, você vai dizer para seus amigos que a pessoa tinha pernas, mas que perdeu num acidente? Acho que não. Se você pensar nessa possibilidade, você é um ser humano horrendo, desculpa, mas é real.

Normalmente as pessoas não expõem as particularidades e dores das outras assim de graça, mas percebo uma imensa necessidade de se fazer isso com pessoas trans. Apresentar com nome morto, se referir ao gênero imposto no nascimento, falar pelas costas da pessoa o nome morto dela ou usar os pronomes errados... Sim, se você trata uma pessoa trans pelas costas dela com pronomes e nome errado, você é transfóbico sim.

Esse tipo de agressão, violência acontece todos os dias, e as pessoas cis parecem não se importarem com isso. É só pedir desculpas que está tudo bem, Só que não. 

Visibilidade é importante para pensarmos em detalhes de nossas vidas, que as pessoas cis já conquistaram, mas não permitem que nós tenhamos acesso, como: identidade, emprego, estudo, uso de banheiro fora de casa, acesso livre às ruas, relativa segurança ao andar sozinhe, ter suas particularidades respeitadas etc.

Tenho outras postagens aqui sobre vivências trans e reivindicações de nossos direitos, mas nunca é demais salientar isso. E se você está se perguntando por que não existe um mês da visibilidade cis-hétero, é justamente por que você cis-hétero, não sofre violência por ser quem é, não lhe negam acesso à ambientes por ser quem é, não lhe negam emprego por ser quem é, não demonizam sua imagem por ser quem é, não existe um movimento neo-nazista tentando matar você por ser quem é, você com certeza pode se casar, registrar um bebê no seu nome corretamente, não tem que passar por olhares reprobatórios e perguntas vexatórias em cada lugar que vai só por ser quem é, é só por isso.

Então, pessoa cis-hétero, antes de reclamar, agradeça por tudo o que tem. 

O mês da visibilidade é importante para pensarmos nessas questões, para trazer humanidade para nossos corpos, sim, pois ao que parece não somos humanos para muita gente por aí. Trazer respeito, identidade, valorização, derrubar a fetichização que existe sobre nós, desmarginalizar nossa imagem e mostrar que produzimos saberes e conteúdos essenciais para a cultura brasileira. 

Enquanto nossa existência não for respeitada plenamente, haverá luta.

Para Linn e as Irmãs de pau, meus mais sinceros votos de sucesso, vocês são exemplo de movimento, de luta, de resistência e com certeza de talento. 

Beijos da Pri!!! ^^

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