domingo, 20 de dezembro de 2020

Vamos falar sobre suicídio

 



No último dia 15, na França, uma garota trans se suicidou após ser humilhada por funcionários da escola onde estudava. Segundo as reportagens, ela havia se revelado transgênero há pouco e um dia decidiu usar uma saia, e isso a levou a uma reunião com uma funcionária da escola, que lhe disse que o fato dela usar saia, incomodava outros estudantes. Algumes estudantes disseram que os professories se recusavam a usar os pronomes certos com ela, no caso os femininos. 

Releia o parágrafo anterior e reflita um pouco sobre ele. Uma escola, lugar onde acontece a revolução mental, onde se prepara pessoas para viver em sociedade, transformá-la e torná-la justa, impede que uma pessoa se expresse. Professories que deveriam orientar sues alunes, que deveriam ser responsáveis por encaminha-les para a mudança, se recusa a respeitar os pronomes de uma jovem, mesmo sabendo que isso lhe era incomodo. A aluna é orientada a a esconder sua essência, ao invés de a escola trabalhar a diversidade. Que tipo de educação é essa? É isso o que queremos? Uma educação transfóbica, patriarcal, capitalista, capacitista? 

Algumas semanas atrás um jovem foi afastado da escola nos EUA, por pintar as unhas. Homofobia institucional? 

Esses casos acendem novamente a luz de alerta sobre nossas cabeças. Vivemos com violências desse tipo o tempo todo, incluindo suicídio. Mas o que tem sido feito para que essa situação mude?

Ninguém explica perfeitamente o suicídio, mas sabe-se que alguns casos ocorrem por conta de sofrimento intenso e falta de apoio necessário. Em um texto anterior eu coloquei alguns dados sobre suicídio de pessoas trans, e só para se ter ideia, esse ano a taxa de suicídios de pessoas transgêneros no Brasil, subiu 34% em relação ao mesmo período do ano passado. Nota-se aqui um problema agravado de cunho social. Sim, a sociedade está falhando em proteger as pessoas contra o suicídio. Mas, será que essa não é justamente a intenção?

Quantas propagandas alertando contra o suicídio você vê no decorrer do ano? E quantas sobre alistamento militar? Quantas propagandas sobre consumo você vê por mês? E sobre respeitar as diferenças?

Não é novidade para ninguém, que nosso país possui diversos problemas a respeito de saúde mental, e isso se agrava quando colocamos a lupa sobre a população trans. Somos simplesmente negligenciades pelo sistema. As redes públicas de apoio para pessoas trans são precarizadas, vivem às margens da decadência, oferecendo o melhor que podem, mas esse melhor, é o pior que o governo disponibiliza. 

A população como um todo possui um nível de saúde mental bastante desequilibrado. Agora imagine pessoas que são alvos de críticas, descaso e violência cotidianamente? Nós existimos e merecemos viver dignamente.

A taxa de suicídios no Brasil é bem alta, o país está no top dez de índice de suicídio. Ano passado saíram dados no portal G1, que mostravam o país indo na contramão da tendência mundial. Brasil aumentou 7% sua taxa de suicídios em seis anos. Lembre-se que esse valor é referente somente ao que é computado. Há casos dúbios que acabam sendo arquivados como indefinidos, e casos que nem mesmo vão a conhecimento público.

Um país onde as taxas de suicídio sobem a cada ano, certamente tem algo de errado. E sendo esse mesmo país um dos campeões em assassinato de pessoas lgbtqpia+, compreende-se o fato de suicídios de pessoas trans terem aumentado. Tá, mas e aí? Ficamos com os dados e só?

É, preciso falarmos sobre isso urgentemente. Organizarmos movimentos de cobrança, petições e tudo o que estiver ao nosso alcance para que o suicídio seja levado à sério no país, sobretudo de pessoas trans, os quais as taxas aumentam de forma alarmante. Precisamos pressionar nosses governantes para que elus lancem um olhar sobre isso. 

Suicídio não é frescura, não é fraqueza, não é covardia... Suicídio é um produto de uma sociedade doente que rejeita as pessoas que a compõem. Não podemos negligenciar ainda mais esse fato, não podemos esperar, não podemos relaxar, Setembro Amarelo é todo dia. No entanto, só uma campanha não vai resolver.

Quando uma pessoa se suicida é porque não lhe restaram mais alternativas para viver em sociedade de forma digna, ao menos é isso o que mostra todas as investigações posteriores à morte. E que sociedade é essa que nega dignidade a uma pessoa? Que oprime a pessoa até o ponto dela tirar a própria vida. Somos tão descartáveis assim?

Se pararmos para refletir um pouco, cada caso de suicídio é o resultado de uma negligencia generalizada. Além de todo os descaso que o governo tem com a população, muitas pessoas ouvem pessoas próximas reclamando de dores profundas, dores na alma, de depressão e outros gatilhos que podem levar ao suicídio, mas nada fazem, nem mesmo uma orientação, preferem falar de séries, futebol, crushs, e outras coisas, exceto do que é essencial; a vida. Não se afaste de uma pessoa necessitada porque lhe parece chata e só fala de problemas, muitas vezes, você é única ilhota que ela encontrou no meio do oceano e acabou se agarrando à você. Não estou dizendo que devemos tomar todas as dores para nós, mas escutar mais e orientar as pessoas a procurarem ajuda, ajudarem-nas no processo de procura... As vezes, meia hora perdida do seu tempo, salva uma vida.   

Enquanto as pessoas trans forem tratadas como Fouad, ocorrências de suicídio e auto mutilação continuarão acontecendo. Enquanto nossa sociedade for negligente e transfóbica em suas estruturas, os crimes de lgbtfobia continuarão aumentando. Essa é uma luta que devemos travar todos os dias em todos os lugares, devemos mudar as estruturas. Educar crianças para respeitar a diversidade, cortar piadas preconceituosas, expor nossos argumentos de igualdade e respeito, denunciar abusos, tudo isso são formas de lutar contra essa opressão. Mas isso ainda não resolve o problema completamente. Precisamos de ações mais profundas, nas estruturas, e infelizmente isso só poderá vir através de ações governamentais. Então, precisamos escolher bem e pressionar bastante. Sem luta não existe direito, e sem direitos não existe estabilidade e dignidade social, infelizmente. 

Pessoas que permitem que um suicídio aconteça por omissão, e pessoas que desencadeiam esse suicídio através de ações, podem ser consideradas detentoras da culpa (ou crime) dele ter acontecido? É uma reflexão válida e urgente.

Beijos da Pri!!!      






12 comentários:

  1. Que necessário mobilizar estas reflexões, excelente texto! Obrigada

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    1. Obrigada!
      Sim, é importante levantar essas questões, o ano todo inclusive.

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  2. Pri, que texto lindo e necessário!!!! Quantas vidas lindas perderemos por conta de falta de EMPATIA. É LUTA PARABTRANSFORMAR E DÁ SENTIDO A VIDA!!!!

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    1. Pois é meu caro, pena ser um assunto tangível a poucos.
      Se as pessoas realmente soubessem o que significa amar ao próximo, esse planeta seria um lugar bem melhor.

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  3. Questão importantíssima colocada de forma bastante esclarecedora! Sou suspeita pq sou sua fã, mas vc arrasa cada dia mais e melhor!!! Parabéns! Vamos à luta!!!💋💝💙💚💛🧡🤎🖤🤍

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    1. Obrigada Má!
      É realmente uma questão muito pertinente, porém, pouco levada à sério, e até algumas vezes taxada como burrice, por certos "intelectuais" por aí.

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  4. Lindo texto, minha amada!
    Somente pessoas como você, com boa índole e bom coração, conseguem entender a dor de um ser humano.
    Como você disse, o mundo está cheio de pessoas julgando nossas ações e taxando pessoas com infinitos problemas, com rótulos. Com certeza são pessoas vazias, que são infelizes, frustradas e covardes. Sim, dotados de covardia de assumirem que são falhos, que sentem dores e erram todos os dias.
    Tenha pena de pessoas assim.

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    1. Obrigada Nat! Você é um amor.
      É realmente uma pena que essas atitudes existam, mas trabalharemos para erradicá-las.

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  5. Excelente texto, não poderia esperar menos de você. Você brilha muito e continuará brilhando demais.
    Reflexão importante e urgente, realmente.
    E não pude deixar de ler a resposta anterior, que pena que existam pessoas tão infames assim. São um monte de estrume mesmo. Como é que pode, você não se sensibilizar pelo próximo, taxar a dor dele como algo fútil? Devem ser pessoas frustradas, covarde demais para admitir que são falhas e limitadas, ai fica julgando os demais.

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    1. É realmente uma pena. Mas we will survive...rsrsrs

      Obrigada pelas carinhosas palavras amore. Você sabe que eu roubo esse brilho todo de você, né?
      Kissu

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  6. Mano, tipo eu sou homem cis e hetero, mas esse texto mexeu comigo. É um assunto negligenciado pra cacete mesmo. As pessoas no poder ou as pessoas reacionárias, tratam as vidas das outras pessoas como se fossem menos importante que as delas.
    Vejo um monte de gente por ai, inclusive pseudosintelectuais, tratando o suicidio com desmerecida atenção. Tem uma bancada de otários por ai que dizem que é fraqueza, que é pra cahamar atenção. Mano, quem vai se matar pra chamar atenção?
    Essas pessoas podiam prestar um serviço social calando-se.

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    1. Fico imensamente feliz com isso, Sandro.
      São pessoas como você que fazem a diferença.

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