sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Transfobia, relativismo e liberdade de expressão



Hoje acordei com uma baita notícia bombástica no meu feed, a senhora J.K Rowling abriu uma loja com produtos contendo diversas frase transfóbicas estampadas em mais de cinquenta produtos. Entre as frases, estavam: Notória transfóbica, Mulheres trans são homens, Ativismo trans é misoginia e Fodam-se seus pronomes.

Bem, o impacto foi enorme. Não que esperasse uma postura diferente vinda dela, já que ela mesma já se mostrou inúmeras vezes transfóbica, já levou seus argumentos para a mídia, tais como: "mulher que menstrua" para se dirigir à mulheres cisgêneras (A visão dela é que mulheres sem útero não são mulheres? Faz sentido para você? Pra mim não.) e nunca se retratou, não o fez porquê não está dizendo palavras vazias, é uma convicção dela. Porém, não achei que ela fosse sair do patamar de opositora à vivência trans, para assumir uma postura de disseminadora de transfobia, e discursos de ódio. 

Conversei com muitas pessoas e tive acesso a muitas opiniões, muitas mesmo. Mas o que mais me incomodou foram pessoas dizendo que não veem essa postura como algo ruim, pois, ela também é um ser humano, cidadã e portadora do direito de liberdade de expressão.

Bem, isso é verdade? Que ela é ser humano suscetível ao erro? Fato, é sim. Que é cidadã e tem direito de livre expressão? Sim, outro fato. Porém, existe uma grande diferença entre liberdade de expressão e discurso de ódio. 

Algumas pessoas não conseguem enxergar a tênue linha da ética e do perigo que carrega esse relativismo. Sim, quando nós assumimos que todos os argumentos são válidos porque vivemos em sociedade democrática, estamos relativizando a força e a periculosidade que eles representam. Então isso quer dizer que existe um limite para a liberdade? Ora, isso é óbvio. A liberdade a qual temos contato, proveniente da ética e todas as suas atualizações no decorrer do tempo, nos fornece a liberdade, mas essa liberdade só é válida se de modo algum ela interferir na integridade de outro ser humano.

Dentro de uma sociedade democrática não trabalhamos com imposições, mas torna-se necessário a percepção de que o relativismo é perigoso em determinadas áreas do relacionamento humano, e que as relações humanas precisam ser construídas sob pilares universais, tais como: confiança e respeito mútuo.

O relativismo deteriora as relações humanas e nos conduz a uma situação de desconfiança, desrespeito e antiética. E isso não é compatível com o mundo que desejamos criar, visto que a cada dia nascem mais e mais medidas para igualar os direitos das pessoas e tornar a convivência mais empática.

Algumas pessoas defendem que podem pensar o que quiserem. Podem, isso é verdade mesmo. Cada um é livre para pensar sobre o que quiser. Mas esses pensamentos não devem tomar forma quando são contrários à essa consciência Ética global.

Quando uma pessoa faz piadas esdruxulas sobre grupos sociais, ou expressa frases preconceituosas, ela não está exercendo o direito de expressão dela. Ao contrário, ela está cometendo um ato de injustiça, um ato criminoso. Muitas pessoas tentam justificar seus pensamentos preconceituosos com a máxima da liberdade de expressão, sem ao menos pensar sobre as implicações disso. Frases que evidenciam racismo, transfobia, pedofilia, misoginia, ou qualquer outro tipo de degradação humana, não são liberdade de expressão não, são atos criminosos.

Eu disse ali em cima que cada um pode pensar o que quiser, e isso é um fato. Mas quando esses pensamentos tornam-se ações, necessariamente precisam ser o fruto de longas reflexões cuidadosas a respeito do objetivo que pretendemos atingir, sabe? E também dos meios que nos dispomos a usar para alcançar esses fins. Aquela coisa de que os fins justificam os meios não vale num mundo onde a ética prevalece. Se quisermos construir um mundo bárbaro, sem leis, sem regras, sem ética, aí sim podemos implantar o relativismo, e só nesse caso ele pode prosperar.

Relativizar discursos como esse é se omitir da responsabilidade social de prezar pela vida, pela integridade das pessoas, do respeito e da boa convivência. É claro que ninguém é obrigado a aceitar o conceito de transgeneridade, não é obrigado a gostar, nem mesmo interagir com uma pessoa trans (caso esse contato não se faça necessário, né?), mas respeitar é obrigatório sim. E abrir uma loja com produtos transfóbicos vai contra nossa noção de ética e diversidade. O mais triste é que a lei não pesa para ela, diversas vezes ela se declarou transfóbica, fez ataques à pessoas trans de forma muito clara e nunca recebeu punição por isso. O fato de ela ser milionária a torna imune à lei? 

Dói também o fato de ela ser uma mulher super conhecida e influente e optar por usar sua emancipação para disseminar ideologias tão negativas quanto essas.

Então só para terminar, essa senhora é transfóbica e não merece atenção e apoio de pessoas que prezam pela igualdade, pela ética e pela vida. Ações como a dela promovem violência e morte, desestabilizam a vida de milhões de pessoas e criam a falsa visão de que promove a liberdade, quando na verdade o que está promovendo são crimes muito especificamente elaborados para atingir uma determinada categoria de pessoas. Não seja mais um boçal, não apoie a repressão, apoie o respeito mútuo... Apoie a ética!


Beijos da Pri! 


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