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terça-feira, 29 de setembro de 2020

She-ra e as princesas do poder

 


Que esse desenho é maravilhoso, isso todo mundo já sabe. 

A internet está cheia de postagens sobre She-ra, diversos blogs, sites e canais de vídeo abordaram o tema, cada ume a sua maneira. Eu, nesse post, vou deixar minhas impressões sobre o desenho, o que eu gostei, o que não gostei e comentários particulares. Não estou aqui para dizer algo certo ou errado, é só minha opinião, meu ponto de vista e minhas sensações a respeito da obra.

Para começar quero apontar o fato de que Noelle Stevenson, a criadora, abordou diversos temas muito complexos num único universo e o fez com maestria. A DreamWorks produziu a animação, e sinceramente, durante muito tempo fiquei com medo que a série fosse cancelada por tratar de temas relacionados à aceitação de modo geral. Esse medo foi gerado depois de ver a Netflix ceder à pressão religiosa e cancelar Super Drags, e não apostar num público fora dos padrões e cancelar Sense8. Bem, mas a DreamWorks estava em dívida conosco desde Avatar: a lenda de Korra, sim, pois durante toda a série ficou evidente que a relação de Asami e Korra era bem mais que amizade, porém, no momento crucial, onde deveria nos ser entregue o mais belo presente, que seria a concretização desse relacionamento, a DW nos privou disso.

Não sei se as reclamações dos fãs surtiram algum efeito, ou se o sucesso imediato de She-ra teve algo a ver com isso, o fato é que a DW prosseguiu com a produção até o final e não interferiu na obra da Noelle. Tudo foi produzido como a criadora desejou e ficou muito bom, não era para menos.

Bem, mas do que é que fala esse desenho afinal? Cada pessoa que assistir à série vai captar determinadas mensagens ali, mas para mim, o desenho fala de amizade, de amor, de superação, de aceitação das diferenças, de conflitos éticos, de propagar a paz e combater os males que invalidam a vivência das pessoas, tudo isso de maneira lúdica e divertida.

Vemos a diversidade nas próprias personagens. Tem pessoas pretas, gordas, crianças, autista, transgêneros, não-binários e de diversas sexualidades. Acho muito interessante o fato de todas as mensagens serem passadas através de metáforas (bem, até certo ponto) e que no final, essas metáforas se auto explicam. As maiores metáforas para mim são apresentadas através das personagens Arqueiro e She-ra/Adora. 

Há um episódio em que o Arqueiro vai visitar os pais (sim, dois pais e os três são pretos ^^) e ele pede para a Cintilante que o ajude a inventar uma história a respeito de sua vida, pois, ele quer que os pais pensem que, assim como eles, ele tenha se tornado um historiador/arqueólogo, mas ele se tornou algo bem diferente, um guerreiro revolucionário. Quando os pais descobrem, ele chora e confessa a eles, explicando que mentiu para que eles não se chateassem, não ficassem envergonhados ou bravos... E aí eles dizem que o aceitam como ele é, sendo quem ele é. Uma nítida metáfora para as pessoas que se trancam no armário (não se revelam LGBTQPIA+) por medo de aceitação, violência, abandono, solidão etc. É meio que um recado para todes, pais/mães e filhes que vivem nessa condição. Sair do armário, nem sempre é ruim, claro que não é fácil e cada caso é um caso, mas as vezes projetamos nossos medos sobre nossa realidade, vivemos o medo e não nossas vidas. 

A metáfora da Adora/She-ra é um pouco mais longa e fragmentada, pois envolve vários episódios. Mas o resumo é seguinte: Adora tem uma carga profética sobre os ombros e devido a isso, atitudes, pensamentos, comportamentos e resultados são esperados dela. Durante muitos momentos ela é questionada e comparada com a She-ra anterior, porém, ela acaba percebendo que ela não é como a anterior, ela é diferente e sempre será, e nunca deve ser igual a ninguém, porque sua existência, suas experiências são únicas, e é esse conjunto de experiências que sintetizam sua persona. Ou seja, outra metáfora sobre aceitação. Muitas vezes, nós (independente de sexualidade, ou qualquer categoria que exista para definir grupos sociais) nos punimos com esse martírio. Nos comparamos com outras pessoas, pesamos nossos feitos e elevamos a importância dos feitos alheios enquanto invalidamos os nossos, isso tudo por não nos conhecer, não nos aceitarmos, não compreendermos que cada ser humano é único e como tal, possuirá conjuntos únicos de experiências durante toda sua vida. E todas as vidas são importantes, todas as vivências são válidas e maravilhosas. Só para estender um pouquinho esse assunto, vejo na She-ra o conceito de "super homem" criado por Nietzsche. A Adora deixa seu estado humano para trás e assume uma postura elevada, com muita humildade, amor, carisma, mas superior ao estado natural de ser humano.

As princesas, são todas guerreiras, mas nenhuma delas possui a mesma personalidade. Esse fato é facilmente percebido, e enriquece demais o desenho. Porque não é uma superficialidade criada para distinguir uma personagem que entra em cena, ao contrário, a personagem entra em cena porque possui esse diferencial, e elas carregam isso impresso em seu semblante, em suas palavras, ações e relações.

Um lance que gosto muito, é o fato da Entrapta ser autista e não ser dependente das outras. Isso significou para mim, que a criadora quis dizer que não importa se você tem uma síndrome (depende do grau da síndrome, óbvio), você pode viver sua vida de forma digna e independente. Bem no final, a Serena se irrita com a Entrapta e dá um choque de realidade nela, dizendo que ninguém é obrigado a aceitar tudo o que ela faz, e que nem tudo tem que ser feito do jeito dela. Bem, isso é verdade. Existe aqui muito pormenores, mas no caso da maga tecnológica, o autismo dela é leve, e não é pelo fato dela ser autista que ela pode fazer o que bem quiser com as pessoas, tratá-las da forma que quiser e fingir que o mundo todo gira ao seu redor, afinal, ela convive com outras pessoas. Entendam aqui, que o que a Serena quer dizer é que a Entrapta tem condições de entender as pessoas ao seu redor e interagir melhor com elas, no entanto, ela ignora-as por livre e espontânea vontade, mesmo quando precisa delas.

Noelle disse numa entrevista que todas suas personagens são gays até que se prove o contrário, bem, desnecessário dizer o quanto isso é lindo, né? Por quê? Porque quebra a lógica heteronormativa. Quando você pede para uma pessoa imaginar um casal, geralmente elas imaginam um casal hétero e cisgênero. E com essa afirmação, a Noelle rompe com essa imposição sistêmica.

Double Trouble é uma das minhas personagens favoritas. Acho que é bem óbvio né? A personagem é não-binária, possui um poder de transmutação, mas não é esse poder que molda sua personalidade, muito ao contrário. O poder de transmutação acaba auxiliando sua personalidade e sua condição não-binárie, pois, elu não precisa ficar presa numa forma. Não que a forma seja importante para uma pessoa não-binárie, mas no caso específico de Double Trouble, elu usa essa mudança de forma para fluir por sua personalidade, sexualidade e existência. É um bônus que elu recebeu. ^^

Bem, vocês me matariam se não falasse da Felina, né? rsrsrs 

Eu gosto demais dessa personagem. Desde o início eu percebi algo muito íntimo irradiando da dupla Adora e Felina, no entanto, no começo da série, cheguei a pensar que fosse algum sentimento de irmandade, pelo fato de ambas crescerem juntas e serem meio que cúmplices e parceiras de combate. Mas no decorrer da série, notei que o sentimento de perda da Felina era muito mais propenso a uma perda romântica que familiar, e aí fui catando caquinhos e arrisquei numa paixão secreta. Percebe-se desde o início que Adora gosta muito dela, mas não demonstra esse sentimento romântico com clareza, não que eu tenha percebido, mas a preocupação que a Adora tem pelo bem-estar da rival é admirável, e isso me confundiu diversas vezes na série, mas aí no final épico 😍 tudo fica muito claro. A cena da declaração foi linda, não pelas palavras, não pelo momento em si, mas por conta da construção, lenta e bem arquitetada que a série montou e nos apresentou, de certa forma, nós esperávamos aquilo, mas a Noelle e DW fez com que nos parecesse surpresa, é simplesmente demais.

O que eu não gostei foi o fato de algumas personagens serem pouco trabalhadas, as personalidades pouco aprofundadas e limitar a trama às princesas. Eu sei que se fossem dar maior visibilidade para todas as personagens a série ficaria gigante, e esse talvez tenha sido o medo da DreamWorks, alongar a série, perder público e a Netflix cancelar. A Noelle produz Histórias em Quadrinhos de She-ra, não tenho conhecimento de nenhuma edição em português, mas seria maravilhoso se tivesse. Outro ponto negativo achei na série é que a única personagem idosa com relativa importância no seriado, tem uma personalidade esquizofrênica, e perturbada. Por um lado, é legal, uma personagem com outro olhar das coisas e sendo importante, mas por outro lado, a imagem do idoso, ao menos para nós aqui no Brasil, é de alguém, chato, confuso, reclamão, e que se torna rapidamente um fardo, justamente por conta dessas características. Talvez isso seja uma percepção somente minha, por estar próxima de pessoas idosas que recebem esse tipo de tratamento, mas sei lá, isso me incomodou. Outro fato foi a ausência de uma protagonista surda ou cega, poxa, tinha tanta representatividade ali, cabia mais uma. Tá, tá, tudo bem, não é uma crítica à Noelle ou a DW, mas senti falta e acho que seria muito maneiro se tivesse uma princesa surda ou cega. A série fica menos maravilhosa por isso? De forma alguma, não podemos exigir que uma artista aborde todos os temas do mundo e represente todas as pessoas do planeta, mas acredito, que em obras futuras dela, algo do gênero irá a parecer.  

Além desses pontos, a série traz outros temas, como: arrependimento, autopiedade, sofrimento pela perda de entes queridos, exploração por conta da tirania, religiosidade e esperança. É uma série da qual eu poderia falar pelo resto da vida, e o farei, mas não tudo de uma vez, né? 

Espero que tenham gostado e caso tenham uma visão diferente da minha sobre qualquer aspecto, não hesitem em comentar.

Beijos da Pri! ^^


#vivaoamor #diversidade #naobinarie 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Uma Jornada Tupiniquim





Uma Jornada Tupiniquim, 2018.

Sinopse: A Lua está se afastando da Terra e isso pode gerar inúmeras catástrofes ao redor do planeta. Três pessoas são retiradas de seus cotidianos e transportadas para um mundo mágico, onde viverão incontáveis aventuras. O destino da humanidade está nas mãos desse trio inigualável.


Esse livro é muito cinematográfico, as cenas são descritas com tanta maestria que automaticamente, imagens são projetadas em sua cabeça a medida que mergulha na leitura. Há no livro uma preocupação muito grande com a representatividade, no caso, LGBTQPIA+ e Indígena. Em momento algum nota-se desrespeito em generalizações sobre as vivências das personagens. É uma leitura dinâmica e prazerosa. 

A história conta com diversos recursos de entretenimento, comédia, romance, terror, suspense, mitologias, folclore, ação, aventura, batalhas épicas e drama. É uma obra mais que completa.


O livro pode ser encontrado na versão digital, através do link abaixo:

Link de aquisição Uma Jornada Tupiniquim 

https://www.amazon.com.br/Uma-Jornada-Tupiniquim-Rodrigo-Ribeiro-ebook/dp/B07HFLNL6W 

E a versão física, com o próprio autor através do e-mail: 

rodrigodasilvaaparecido@gmail.com




Existem limites para a Arte?

É uma questão polêmica e que pouca gente gosta de falar, no entanto, decidi escrever meus pensamentos sobre o assunto, não porque desejo passar uma visão definitiva, mas ao contrário disso, para que algum dia possa colher um debate de qualidade a esse respeito.

Bem, quando pensamos em Arte, poucas pessoas vão além de pinturas em tela ou teatro. A Arte em si é bem mais que materialização imagética de suas intenções, mais que interpretação de papeis, a Arte é a conexão do ser humano com seu próprio ser, com uma forma transmaterial que está além dos limites corpóreos. A Arte é olhar você e mundo através de outros prismas, sendo assim, Arte é uma outra vida, outra visão de mundo, outra realidade e outro universo além de tudo o que experimentamos.

Dançar, cozinhar, esculpir, cantar, pintar, desenhar, escrever, fotografar, discursar, interpretar, criar, dirigir, jogar, e infinitos outros verbos, tudo isso é Arte. Tudo o que imaginamos, somos capazes de criar, talvez não no exato momento em que imaginamos, mas no futuro, certamente. A criação depende de ferramentas, de situações e recursos, a imaginação não, ela é livre, sempre livre.

Então, isso quer dizer que a Arte não possui limites? Não. Isso quer dizer que as possibilidades de representações artísticas são infinitas, mas a Arte possui sim limites.

Quando me aproprio de um conceito de infinidade e de criatividade, tenho de ter ciência que posso através da minha arte passar uma mensagem, criticar uma ideia, uma pessoa, uma situação, mas em momento algum a arte estará isenta de interpretação e dos valores éticos. É óbvio que a Arte é uma janela para além das normativas que regem o mundo, mas o fato de a própria Arte ser um ato de rebeldia, não a torna uma ferramenta de imposição cultural. Mas o que isso quer dizer?

Isso quer dizer que não posso escrever um livro onde vou expelir todos os meus preconceitos. Não posso escrever uma obra tratando a escravidão, a violência, a transfobia, o autoritarismo como coisas normais, como banalidades. Fazer isso é corroborar com um pensamento completamente inapto para a ciência artística. Arte é transformação, é revolução, é aproximação, exaltação... Ué, mas não posso fazer tudo isso com um herói nazista que dobra o mundo à sua vontade? Pode, claro que pode, desde que essa obra seja um alerta, uma crítica e não uma veneração doentia ao nazismo.

Existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o bom senso. É comum pessoas dizerem que podem fazer o que bem entenderem por viverem num país livre. Bem, pode, mas se você desobedecer uma lógica global de boa convivência, certamente encontrará represálias e punições.

A Arte reque bom senso, apesar da natureza libertária que ela carrega, não podemos nos apropriar de tudo para fazer uma obra de arte. Uma pessoa branca, burguesa, cristã, por mais que estude, jamais saberá de fato, como é a vida de uma pessoa preta, umbandista e pobre. É óbvio que personagens assim, podem ser interpretados por ela, e até marcarem presença em suas obras, mas ela não pode assumir que fala sobre o assunto com propriedade e que aquele é o lugar de fala dela, é preciso bom senso.

Eu jamais escreverei uma história onde o discurso principal que sustenta a trama seja de cunho religioso doutrinador, porque não condiz com minha realidade. Não tenho religião, não me atraio por dogmas religiosos e discordo fortemente de muitos discursos, então como é que eu poderia escrever um livro onde a religião seria a base da trama, tendo por trás um discurso doutrinador? Não tem como.

Por mais que eu estude religiões, essa é uma realidade que não me pertence, e nunca saberei de fato como é ser religiosa. Posso criar uma personagem que o seja, mas não posso colocar o discurso religioso em pauta. Enfim, por que tudo isso?

Recentemente uma certa senhora, a qual não mais pronunciarei o nome para que se torne invisível mesmo, proferiu diversas injurias contra as pessoas transgêneros. E isso é muito desconfortável para nós da comunidade trans e também para as pessoas que a tinham como uma artista séria e "engajada". Depois de tais injurias, ela se recusou a se desculpar e ainda criou um loja para vender produtos com frases transfóbicas. Em uma das entrevistas ela disse que sentia muito pelas pessoas trans, mas que era assim que ela pensava. 

Bem, pensar assim não é recriminável. Sua imaginação é mesmo livre. O problema é que ela está influenciando discursos de ódio e ações violentas. E isso, é incondizente com a natureza artística. Bom, então quer dizer, que nenhum artista pode ter pensamentos antiéticos? Se você pensa na Ética, como um regulador para a boa convivência humana, então não, não pode.

Ah, Pricila, mas você fala que não gosta de religiões. Sim, digo, mas perceba a diferença. Eu não gosto, porque não acho necessário PARA MIM, PARA MINHAS EXPECTATIVAS, e a única que tenho problemas, é aquela que bate à minha porta tentando me converter, as demais, nem existem para mim. De fato, não me interessam, mas não odeio, não recrimino a prática, não sou contra religiosos, não sou contra ensinamentos religiosos... Mas se você vier com tudo isso para mim, dependendo da abordagem, eu não ouvirei uma palavra sequer. 

Ah Pri, isso não torna você intolerante à religião? Não. Me torna intolerante à gente chata que tenta justificar tudo através de um discurso ensaiado, tentando provar que todo o resto é errado e ainda tenta me convencer a aceitar suas ideias. Isso sim é algo que critico em algumas obras minhas, o mau uso da religião. Mas voltando ao tema principal...

A Arte não se trata da conservação de pensamentos, ela trata da libertação da alma, da expressão por meios inimagináveis e de incontáveis formas. No entanto, não pode ser considerado Arte, algo que por natureza venha a gerar discriminação, violência gratuita, segregação e insegurança para as pessoas. Se nós dissermos que não existe limites para a Arte e estivermos pensando em limites como formas de expressão, então realmente não existem limites. Agora, se entendermos limites, como sendo um discurso pautado pela Ética, então sim, existem limites. Toda forma de Arte possui um sentido, e quando esse sentido é munido de um discurso antiético, que extrapola os limites sociais de boa convivência, então ela está além dos limites artísticos, se tornou um discurso ideológico de conversão materializado.

A Arte é e sempre foi um campo de atuação das pessoas criativas e visionárias, para que trabalhassem seus pensamentos dando-lhes formas, compreensíveis ou não, para o mundo exterior. E a Arte como valorização da humanidade, da criatividade, da superação humana... Deve ser glorificada. Mas nunca deve ser usada como arma para expelir discursos ardilosos e mal intencionados que o artista não tem coragem de proferir abertamente.

Espero que minhas conturbadas palavras tenham sido compreendidas, no entanto, se não foram, podem me chamar que a gente conversa.

Beijos da Pri. ^^

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Transfobia, relativismo e liberdade de expressão



Hoje acordei com uma baita notícia bombástica no meu feed, a senhora J.K Rowling abriu uma loja com produtos contendo diversas frase transfóbicas estampadas em mais de cinquenta produtos. Entre as frases, estavam: Notória transfóbica, Mulheres trans são homens, Ativismo trans é misoginia e Fodam-se seus pronomes.

Bem, o impacto foi enorme. Não que esperasse uma postura diferente vinda dela, já que ela mesma já se mostrou inúmeras vezes transfóbica, já levou seus argumentos para a mídia, tais como: "mulher que menstrua" para se dirigir à mulheres cisgêneras (A visão dela é que mulheres sem útero não são mulheres? Faz sentido para você? Pra mim não.) e nunca se retratou, não o fez porquê não está dizendo palavras vazias, é uma convicção dela. Porém, não achei que ela fosse sair do patamar de opositora à vivência trans, para assumir uma postura de disseminadora de transfobia, e discursos de ódio. 

Conversei com muitas pessoas e tive acesso a muitas opiniões, muitas mesmo. Mas o que mais me incomodou foram pessoas dizendo que não veem essa postura como algo ruim, pois, ela também é um ser humano, cidadã e portadora do direito de liberdade de expressão.

Bem, isso é verdade? Que ela é ser humano suscetível ao erro? Fato, é sim. Que é cidadã e tem direito de livre expressão? Sim, outro fato. Porém, existe uma grande diferença entre liberdade de expressão e discurso de ódio. 

Algumas pessoas não conseguem enxergar a tênue linha da ética e do perigo que carrega esse relativismo. Sim, quando nós assumimos que todos os argumentos são válidos porque vivemos em sociedade democrática, estamos relativizando a força e a periculosidade que eles representam. Então isso quer dizer que existe um limite para a liberdade? Ora, isso é óbvio. A liberdade a qual temos contato, proveniente da ética e todas as suas atualizações no decorrer do tempo, nos fornece a liberdade, mas essa liberdade só é válida se de modo algum ela interferir na integridade de outro ser humano.

Dentro de uma sociedade democrática não trabalhamos com imposições, mas torna-se necessário a percepção de que o relativismo é perigoso em determinadas áreas do relacionamento humano, e que as relações humanas precisam ser construídas sob pilares universais, tais como: confiança e respeito mútuo.

O relativismo deteriora as relações humanas e nos conduz a uma situação de desconfiança, desrespeito e antiética. E isso não é compatível com o mundo que desejamos criar, visto que a cada dia nascem mais e mais medidas para igualar os direitos das pessoas e tornar a convivência mais empática.

Algumas pessoas defendem que podem pensar o que quiserem. Podem, isso é verdade mesmo. Cada um é livre para pensar sobre o que quiser. Mas esses pensamentos não devem tomar forma quando são contrários à essa consciência Ética global.

Quando uma pessoa faz piadas esdruxulas sobre grupos sociais, ou expressa frases preconceituosas, ela não está exercendo o direito de expressão dela. Ao contrário, ela está cometendo um ato de injustiça, um ato criminoso. Muitas pessoas tentam justificar seus pensamentos preconceituosos com a máxima da liberdade de expressão, sem ao menos pensar sobre as implicações disso. Frases que evidenciam racismo, transfobia, pedofilia, misoginia, ou qualquer outro tipo de degradação humana, não são liberdade de expressão não, são atos criminosos.

Eu disse ali em cima que cada um pode pensar o que quiser, e isso é um fato. Mas quando esses pensamentos tornam-se ações, necessariamente precisam ser o fruto de longas reflexões cuidadosas a respeito do objetivo que pretendemos atingir, sabe? E também dos meios que nos dispomos a usar para alcançar esses fins. Aquela coisa de que os fins justificam os meios não vale num mundo onde a ética prevalece. Se quisermos construir um mundo bárbaro, sem leis, sem regras, sem ética, aí sim podemos implantar o relativismo, e só nesse caso ele pode prosperar.

Relativizar discursos como esse é se omitir da responsabilidade social de prezar pela vida, pela integridade das pessoas, do respeito e da boa convivência. É claro que ninguém é obrigado a aceitar o conceito de transgeneridade, não é obrigado a gostar, nem mesmo interagir com uma pessoa trans (caso esse contato não se faça necessário, né?), mas respeitar é obrigatório sim. E abrir uma loja com produtos transfóbicos vai contra nossa noção de ética e diversidade. O mais triste é que a lei não pesa para ela, diversas vezes ela se declarou transfóbica, fez ataques à pessoas trans de forma muito clara e nunca recebeu punição por isso. O fato de ela ser milionária a torna imune à lei? 

Dói também o fato de ela ser uma mulher super conhecida e influente e optar por usar sua emancipação para disseminar ideologias tão negativas quanto essas.

Então só para terminar, essa senhora é transfóbica e não merece atenção e apoio de pessoas que prezam pela igualdade, pela ética e pela vida. Ações como a dela promovem violência e morte, desestabilizam a vida de milhões de pessoas e criam a falsa visão de que promove a liberdade, quando na verdade o que está promovendo são crimes muito especificamente elaborados para atingir uma determinada categoria de pessoas. Não seja mais um boçal, não apoie a repressão, apoie o respeito mútuo... Apoie a ética!


Beijos da Pri! 


#transfobianão #vidastransimportam #transfobiaécrime #preconceitonãoéliberdadedeexpressão #preconceitonão  

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Não binários / Não bináries

 


Com certeza já viu em algum perfil de rede social a definição de gênero Não-binário/Não-binárie. Mas afinal que termo é esse que vem se popularizando tanto?

Todo nosso mundo, nossa compreensão de realidade, a estrutura social, as definições que aprendemos e estabelecemos sempre esteve pautada numa lógica binária, como: Noite-Dia, Alto-Baixo, Claro-Escuro, Rico-Pobre, Home-Mulher, Bom-Ruim, Bonito-Feio e etc...

O problema é que este é apenas um recorte muito específico da realidade. Se você filmar uma lâmpada acender ou apagar e depois assistir em super câmera lenta, verá uma incontável quantidade de tons entre uma extremidade ao outro do espetro de luz. Entre o dia e a noite há vários tons de luz, há muitos minutos, segundos, centésimos de segundos, milésimos de segundos, milionésimos de segundos e assim por diante. Entre um centímetro e um metro há infinitas medidas possíveis.

O universo todo funciona de forma caótica e fluida. Nada na natureza é cem por cento mensurável. Não poderia ser diferente com seres humanos.

As pessoas que se definem como não-bináries, são pessoas que quebram a lógica da bináriedade. Ou seja, são pessoas que não podem ser classificadas como homem ou mulher simplesmente. A comunidade NB (ENEBE ou Não-binárie) está conseguindo muita visibilidade nos últimos anos, as redes sociais foram fundamentais para esse avanço, visto que a partir do momento que eu vejo ume igual, sei que não estou isolade e posso procurar outres.

Não-bináries não são todes iguais, cada vivência é única e deve ser reconhecida e respeitada. Existem algumas identidades Não-bináries que são vistas com mais frequência, como: Gênero Fluído, Agênero, Andrógine, Gênero-estrela, Neutrois, Bigênero, Trigênero, Poligênero e Pangênero, todas essas identidades (e outras mais) possuem suas particularidades e somente essas pessoas podem definir suas identidades, ninguém mais.

Sim, é isso mesmo que você entendeu. Entre Homem e Mulher (partindo da ideia de que esses dois gêneros são extremamente opostos) existem muitas outras identidades de gênero. As pessoas não-bináries não se identificam com o gênero que lhe atribuíram ao nascimento, não totalmente, algumas possuem identificação com o gênero de nascença e mais um ou vários outros. No geral, uma pessoa NB não se reconhece no gênero que lhe foi atribuído, e buscando sua identidade, acaba se vendo distante do espectro de gênero binário, está numa coloração mais fluida, sem definição, e isso não é ruim, ao contrário, é maravilhoso.

Geralmente não-bináries utilizam pronomes neutros quando falam de si e esperam que as outras pessoas façam o mesmo. Não é frescura, não é modinha, é só empatia mesmo.

Quando você lidar com uma pessoa não-binárie, não se apegue ao nome ou a aparência física dessa pessoa. Caso esteja iniciando sua relação ou conversa casual mesmo, pergunte como a pessoa gosta de ser chamada, que pronomes usa para si, isso é muito gentil e bonito da sua parte, sabe? Muitas pessoas estão presas no espectro binário e quando veem uma pessoa de bigode e barba, assumem que essa pessoa seja um homem, o que nem sempre é verdade. Daqui para frente, as pessoas não-bináries serão cada vez mais comuns em ambientes coletivos, então, para não cometer transfobia ou acabar magoando alguém, atualize-se sobre o assunto.

Pessoas não-bináries podem ter qualquer configuração de corpo, qualquer sexualidade e qualquer forma de identificação. Quando lidar com uma pessoa não-binárie, pergunte o que não sabe, nunca faça inferências, jamais. Sua realidade não é universal e nem é a única certa.

Algumas pessoas NB, como as de gênero fluído, bigênero etc, requerem um pouco de paciência e empatia a mais. Pois, nem sempre a forma de tratamento é fixa, pode mudar de acordo com o que a pessoa sente, pois, sua identidade de gênero é mutável ou múltipla, e não cabe a você julgar, mas respeitar sim, isso cabe a você.

Então, só para finalizar, Não-Bináries são pessoas como todas as outras, a única coisa que muda é que elas possuem gêneros diferentes daqueles que estamos acostumados a ver como normais, alias, normal não existe. Existe um senso COMUM, mas isso não determina o certo e errado, nem tão pouco o que é normal. Quando lidar com NBs lembre-se sempre de ver esta pessoa exatamente como ela se identificar, nunca projete sobre ela as sua compreensão de gênero, pois, além de ser desrespeitoso e antipático, ainda fará com que você jamais compreenda a pessoa. Todes somos úniques, não existe normalidade, e lembre-se, a realidade é um espelho quebrado em milhões de fragmentos. O universo não funciona numa lógica binária, e pessoas não-bináries, sofrem grandes preconceitos, mesmo dentro da comunidade LGBTQIPA+, então, não seja mais uma pessoa babaca que apoia a repressão, faça a diferença, apoie a empatia e o respeito, apoie o amor e a igualdade!

Beijos da Pri!!!


PS: Se você tem dúvidas de como se comunicar com não-bináries, use o guia da neolinguagem. Vou deixar o link aqui.

Guia para linguagem neutra

domingo, 20 de setembro de 2020

Gelo Fino

 




Gelo Fino, 2020

Este conto de ficção científica foi lançado como forma de degustação da antologia Fictesia, a qual ele pertence. Escrito usando a linguagem neutra. 

Gelo fino narra o cotidiano de uma tripulação de uma nave espacial, presa num planeta deserto e gelado. com o passar do tempo, as pessoas começam a se convencer de que não mais sairão dali, e isso faz com que estreitem os laços entre si e passem a viver de forma mais orgânica. 

Ê Capitane Naida é uma pessoa não-binárie, assim como outres tripulantes, o conto usa formas de tratamentos neutros para a maioria das personagens. Isso não é um mero acaso. Foi escrito pensando na representatividade, escrito por e para pessoas não-bináries, obviamente todos os públicos podem lê-lo, e com certeza apreciá-lo, mas a população NB se sentirá representada, respeitada e valorizada com este conto.

Alias, a antologia Fictesia é uma obra com muita representatividade. Diversos grupos sociais são retratados na obra, são representados de maneira valorosa e respeitosa, como forma de homenagem e acolhimento.

Beijos da Pri! ^^


Link de aquisição: Gelo fino kindle/amazon 

Link de  Aquisição da antologia: 

Fictesia livro 1

Link para consulta do manual de linguagem neutra:  Guia para linguagem neutra






Pessoas trans assassinadas no Brasil

 Todes nós sabemos que o Brasil é um dos países onde acontecem mais assassinatos de pessoas trans, mas como isso afeta diretamente a população? Como o povo vê isso?

Não vê. Simples assim. A mídia sexista, machista, burguesa, transfóbica e racista, oculta o quanto podem os casos de violência contra uma enorme parcela da sociedade. Às vezes, um caso ou outro aparece em grandes veículos de mídia, ou porque teve grande repercussão ou porque é interessante para alguém que não pertence à classe violentada.

De acordo com o site antrabrasil, somente neste ano de 2020 entre os meses de janeiro e fevereiro tivemos um aumento de 90% nos números de assassinatos de pessoas trans e travestis em relação ao ano passado. Parece pouca coisa quando falamos em números, mesmo quando dizemos que a cada três dias, uma pessoa trans ou travesti é assassinada no país.

A violência está diretamente ligada a um discurso de ódio que se espalha cada vez mais por entre as camadas sociais. Esse discurso vem disfarçado de valores familiares, crenças religiosas e determinismos biologizantes, no entanto, nada disso faz sentido de fato, a única coisa que se mostra verdadeira para garantir que essa violência continue é a ignorância e a falta de empatia.

Vimos nos últimos anos inúmeros movimentos sociais ganhando força nas redes sociais e pela internet à fora, mas há algo que me incomoda profundamente. A participação de pessoas cisgêneras e heterosexuais nessas movimentação, ou seria melhor dizer, a não participação dessas pessoas nos movimentos.

Não estou aqui para diminuir luta alguma. Todas as lutas que visam o bom convívio social, o aumento da empatia e o respeito ao próximo, é uma luta válida e necessária. No entanto, parece que as causas LGBTQPIA+ parecem desnecessárias aos olhos da população. 

O número de pessoas que protestam contra o aumento da passagem nos transportes coletivos é infinitamente maior que as pessoas que protestam contra os direitos negados à população LGBTQPIA+, e isso não é uma estimativa, é uma constatação. As pessoas parecem lutar somente por aquilo que lhe afetam diretamente. Mas ignoram o fato que a luta de um é a luta de todes.

Quando um homem negro morreu brutalmente sufocado nos EUA por policiais, a sociedade se levantou e gritou por todos os canais imagináveis que vidas pretas também importam. Isso foi mágico, porém, tudo durou poucos meses em alguns países, em outros, só algumas semanas, e pronto, ninguém mais se importa com as pessoas pretas da mesma forma como quando estavam protestando.

Esse tipo de movimentação coletiva não acontece quando uma pessoa trans ou travesti é assassinada. Só esse ano, até o mês de agosto, foram registrados 129 casos de assassinatos contra a população trans e travesti, e você viu alguma comoção coletiva por alguma delas? Não. Por quê?

Pode parecer premeditado dizer isso, mas a população nacional é guiada por ideologias transfóbicas, misóginas e racistas, e por conta disso, violência contra mulheres, pessoas pretas e pessoas trans é completamente invisibilizada. É como se não fossemos importantes para a sociedade, é como se não existíssemos. 

Sempre vejo pessoas cis cobrando a participação de pessoas trans nos movimentos sociais, mas não as vejo levantando nossas bandeiras. Não precisa ser preto para lutar contra o racismo, não precisa ser LGBTQPIA+ para lutar conta homofobia e transfobia, não é necessário ser mulher para lutar contra o machismo, só é necessário empatia.

Mas não temos isso de vocês, pessoas cis. Não vi empatia quando uma travesti foi morta à pauladas no meio da rua com várias pessoas assistindo e fotografando para postar depois, não vi empatia quando uma moça trans foi morta e teve seu coração arrancado pelo assassino, não vi empatia ou comoção quando uma travesti com mais de cinquenta anos teve sua residência invadida e foi assassinada à facadas dentro de casa, não vi nenhuma comoção ou sinal de empatia quando o namorado matou a namorada trans em Mairinque, ou quando Branca foi morta a tiros no Ceará.

Compreendem a gravidade da situação? Nós pessoas trans e travestis estamos expostas à violência gratuita unicamente por sermos quem somos. É algo inconcebível em qualquer nível de sociedade. A empatia e o respeito deveria ser a base de toda e qualquer sociedade, e não o ódio e a exploração.

São Paulo é o estado campeão em assassinatos da população LGBT no Brasil. Uma grande metrópole, com uma diversidade gigante e ainda assim, encontra-se uma imensa dificuldade de viver sua própria vida, ser quem você é e se expressar assim, pois, a violência dita a vida das pessoas.

Sabe, as pessoas precisam entender urgentemente que quando lutamos por um grupo, estamos lutando por todos os outros. Estamos dizendo à ideologia dominante "Não!", e isso é muito poderoso. Toda vez que permitimos que um grupo seja prejudicado pela sociedade, estamos permitindo que o grupo ao qual fazemos parte também seja prejudicado. 

A ideologia dominante é muito segregacionista e procura minar os meios de expressão e ditar a forma do convívio social, pois, isso é interessante para manter algumas pessoas no poder. Se permitirmos que exterminem os indígenas, que roubem completamente suas terras, estaremos dizendo à essas pessoas que, todo e qualquer grupo está sozinho e é um alvo em potencial para "ELES". Quando deixamos de lutar ao lado das pessoas pretas, estamos abrindo mão de direitos nossos também, e assim o é com os direitos LGBTQPIA+, das crianças, dos idosos, dos trabalhadores, das mulheres e etc... Até que não reste mais grupos para perder seus direitos. 

As pessoas possuem a pecha de acreditar que a luta do outro não lhe interessa, mas interessa sim. Você não luta pelos gays, pelos pobres nem pelos pretos, porque você é hétero, branco e classe média, mas quando chegar a sua vez, você vai pedir ajuda de quem? Será que ainda restará alguém a quem se valer? Será que alguém vai lhe ajudar, visto que não ajudou ninguém? 

Éh... Complicado não é mesmo?

Os assassinatos de pessoas trans e travestis são o resultado de uma forte ideologia de pureza hipócrita, totalmente transfóbica e sem nenhuma razão para existir. Hoje, com as mídias e as redes sociais dominando o modo de vida das pessoas, o ódio às diferenças cresce muito rápido e acaba gerando muitos conflitos meticulosamente arquitetados. O problema é que isso nunca tem fim, é um círculo vicioso, onde hoje se odeia o preto, amanhã se odeia o muçulmano, depois de amanhã se odeia os franceses, semana que vêm odiaremos a raça humana como um todo. 

Precisamos acabar com o ódio. A única maneira disso acontecer é nós nos unirmos, independente do grupo ao qual pertencemos, pois, acima de todos os grupos e classificações, somos humanos. E até onde se sabe, somos únicos no Universo, somos a coisa mais rara que existe, somos dignos de adoração, veneração, contemplação e amor. Todo ser humano é um mistério universal, é um ser incomparável, e não podemos odiar algo assim.

Beijos da Pri!


#amorsemlimites #vidastransimportam #chegadeviolencia    

Memórias Tupinambás




 


Memórias Tupinambás, 2019


Este livro é inspirado num fato histórico ocorrido no Século XVll, onde hoje é o estado do Maranhão.

Narra de forma muita clara e lúcida o choque de cultura entre os indígenas e os colonizadores, diferenças essas que repercutem até os dias atuais.

Moacir, o protagonista, é um "mestiço" que vive num forte português onde aprende sobre religião, caça e expansão territorial, porém, fora do forte ele tem a mãe, que vive numa aldeia com costumes totalmente opostos.

Exposto a essas duas formas de viver, Moacir se vê encurralado e necessitando tomar uma decisão de qual cultura ele quer eleger como prioritária em sua vida. 

Todas as ações, todos os pensamentos, todas as experiências do rapaz serão colocadas à prova quando ele presenciar um episódio traumático e até então, medonho para ele.

Beijos da Pri!

Link de aquisição: https://www.amazon.com.br/dp/B0825JMTPY 

#apoiealiteraturanacional #apoiealiteraturalgbt 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Ascensão

  


Ascensão - Pricila Elspeth, 2018

Sinopse: Desde muito cedo, Hélio sentia que algo estava errado no mundo ao seu redor. No entanto, com o passar do tempo, ele percebeu que não havia nada de errado com o mundo, ele estava como sempre foi: hipócrita, fétido, cruel, corrupto e preconceituoso; o problema estava com ele. Hélio entendeu que o que lhe incomodava era uma questão de fofo íntimo, então é onde tudo começa a mudar em sua vida. Toda a realidade cristalizada que ele conhecia como vida, desmorona como num passe de mágica e agora ele precisa caminhar sobre os cacos dessa estrutura a ele imposta, buscando sua ascensão.

Sobre este livro: Eu comecei escrever essa obra logo que conheci o wattpad. Publiquei alguns capítulos lá e a obra foi bem aceita, elogiada e premiada. A motivação por trás dessa obra é simplesmente representatividade e reflexão. Queria que através da história do Hélio, as pessoas pensassem a respeito da vida das pessoas transgêneros e se empatizassem com essas pessoas, que tanto sofrem na sociedade simplesmente por serem quem são. Então, todas as reflexões e situações do livro não são só ficção, são reais, não com uma única pessoa, mas com milhares, todos os dias.

Eu como uma pessoa não binárie sinto a falta de obras escritas por nós da população LGBTQIA+ para nós mesmes e para o público em geral. Todo ser humano deveria ler obras assim para ter contato com o outro lado da vida.

Beijos da Pri!

Link de aquisição: https://www.amazon.com.br/dp/B0825KLTJ4 



quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Existem crianças trans?

Bem, vamos por partes.

A criança durante muito tempo não possui uma identidade de gênero. Ela segue exemplos, repete o que ouve, e armazena informações, isso não quer dizer que essas informações ou exemplos lhe servirão de parâmetros para sempre. Uma criança na primeira infância simplesmente “É”, ela não tem consciência de uma identidade de gênero, não sabe de sua sexualidade e nem se importa com isso.

No entanto, após certa idade, a criança passa a se identificar com alguma identidade de gênero com o qual tem contato, mesmo que seja virtual, e a partir desse momento ela passa a se compreender sob aquele espectro de gênero, entenda que o que estou dizendo aqui, é que a criança depois de despertar sua sexualidade, sua identidade de gênero, ela buscará em seu entorno, padrões para se apoiar.
Algumas vezes, a criança usa palavras e frases ensaiadas e ensinadas a ela, mas isso não necessariamente representa sua realidade.

Uma criança não conhece gêneros, não está inserida nas discussões a esse respeito, no entanto, ela desenvolve sua própria identidade de gênero, e por questão de assimilação, acaba se aproximando de alguém que ela vê, mesmo que seja uma personagem de desenhos. Mais tarde, ela poderá trabalhar melhor essa questão e se desvincular ou não, daquela figura que lhe serviu de base para estruturar sua identidade.

A transgeneridade pode ser percebida numa pessoa quando ainda é criança, ou depois de algum tempo… O grande problema é que, muitas vezes, as pessoas não são cisgêneras, mas por coerção acabam vivendo sob essa imposição e somente depois de ver outras referências e conseguir informação, compreendem quem são de fato, e dependo do estágio de sua vida, a transição torna-se extremamente complexa, pois, a pessoa já possui vínculos sociais, carreira, compromissos, uma identidade social, etc. E não encontra apoio para se desvincular dessas correntes. Sim, existem muitas pessoas não cisgêneras que vivem sob um espectro de gênero com o qual ela não se identifica. Chamamos isso de cisgeneridade compulsória.

Mas vamos voltar às crianças…

Durante os primeiros anos a criança não se importa com sua sexualidade, ela nem mesmo se reconhece com uma, e isso não faz diferença para ela, tudo o que ela quer é brincar, se alimentar, conforto e explorar o mundo ao seu redor.
Muitas crianças despertam cedo uma percepção de seu próprio ser, porém, muitas vezes são podadas e acabam se confinando dentro de uma moldura social, ou o armário, como dizem.

Ninguém tem o direito de dizer a outrem quem elu deve ser. Quando lidamos com crianças, não podemos incutir nela nossos valores, nossos anseios e preconceitos. Tudo o que temos a fazer é ouvir a criança, entender o que ela está trazendo até nós e procurar apoiá-la no que for preciso para que ela seja feliz e se desenvolva plenamente.

Parece papo de educadora sonhadora, mas é um pouco mais que isso.
Jamais podemos corrigir uma criança quando ela se denomina como algo que ela se identifica, obviamente precisamos dar a ela uma orientação, mas essa orientação não pode vir atrelada a uma ideia de conversão, nunca!

Então, crianças transgênero existem. Existem e precisam de atenção, respeito e orientação. Por isso é importante sempre nos mantermos atualizades a respeito do que está rolando ao redor do mundo, os discursos que estão surgindo e mesmo que não faça parte de nossa vivência, entendê-los e respeitá-los.

Ser uma pessoa trans não é uma questão opcional, é uma questão de essência. Você nasce com essa essência, e no decorrer da vida, você externaliza ou não. Ninguém optaria trocar uma estimativa de vida de 70/75 anos por uma de 35 anos. Ninguém gostaria de trocar a segurança hétero e cisgenera sob a qual foi colocade, para ser alvo de preconceito e violência. Acontece, que ser quem você é, de verdade, vale todos os sacrifícios.

Muitas pessoas acreditam que cada grupo deve lutar por seus direitos, por seu espaço e visibilidade, no entanto, é bem o contrário disso. Toda a sociedade precisa apoiar todos os movimentos sociais que visam a melhoria da convivência humana. Cada vez que viramos as costas para uma causa, estamos colaborando com a opressão, e os opressores não conhecem limites. Hoje, eles tiram os direitos da população preta, amanhã da população LGBTQIA+, e semana que vem será o seu grupo. Então, precisamos nos unir como seres humanos, nos respeitarmos e lutar juntes, pois, se um grupo cai, enfraquece a luta e logo todos cairão. 
 
Beijos da Pri!!! ^^ 

Quem é a Pricila?



 Antes de começar a postar sobre assuntos diversos, explicar algo, questionar alguma coisa e etc, vou me apresentar à vocês, assim ficará mais fácil compreender minhas postagens.


Nasci em São Paulo no ano de 1985, vivi em bairros periféricos até a fase adulta sob uma conduta heterocisnormativa até meados de 2014. 

Historiadora, mas atuo na Educação Infantil, faço pesquisas independentes sobre culturas e mitologias brasileiras, faço um pouco de ativismo aqui e ali, mas nada muito estruturado (até agora). Faço pinturas em tela como forma de distração, e como uma tentativa de expandir minha criatividade.

Fã de ficção científica, fantasia e terror, jogadora de rpg, adoro músicas (quase todos os estilos, mas um destaque maior para o rock), viciada em café, doces e massas. ^^

Tornei-me escritora por necessidade. Sim, sempre quis ler livros repletos de representatividade, que contassem o outro lado da vida, que representasse o Brasil, as nossas culturas, crenças e realidades, como era raro, passei a estudar e escrever. Tenho alguns textos publicados no wattpad (@elspethpri) e alguns outros na Amazon, ademais, estão espalhados por aí entre algumas editoras.

Eu me identifico como uma pessoa não-binária, com expressão de gênero feminina, Ginessexual, Demissexual, e estou me questionando bastante sobre uma possível assexualidade, porém, essa compreensão e aceitação de mim mesma, é muito recente. Vivi muitos anos sob o peso da heterossexualidade e cisgeneridade compulsória, sempre angustiada, em conflito, triste, entediada, desmotivada e irritada, sem saber a verdadeira causa. 

Precisei lutar contra forças internas para entender que o que eu vivia não era minha realidade, mas sim algo imposto a mim. Precisei vencer o preconceito que tinha de mim mesma, o medo de me assumir para minha família, para les amigues, e me desprender da ideia de felicidade eterna, hoje eu penso que a vida é uma coleção de momentos, então aproveito ao máximo o que eu posso. Obviamente não consegui sozinha e nem num passe de mágica, faço terapia e já me questionava e me informava há algum tempo. Aliás, nada melhor que informação para lhe tirar de uma situação complexa.

Iniciei a hormonização este ano (2020) no meio da pandemia, vivendo em isolamento, sem contatos, sem apoio e sem nenhuma certeza do que estava fazendo. 

Cheguei a desistir com poucas semanas depois do início, por sorte, guardei todas as receitas, guias e encaminhamentos que a médica me deu (sim, tudo com acompanhamento especializado), e então retomei a hormonização depois de muita reflexão e autoquestionamento. Hoje me sinto em paz comigo mesma, não tenho pressa e nem expectativas, apenas uma jornada.


Este site será um espaço onde postarei meus pensamentos, minhas críticas, dicas, minhas experiências e sempre que possível, algo que for sugerido por vocês. ^^


Bem, isso é um pouco de mim. Aguardem e logo terá mais.

Beijos da Pri!!! ^^


#nãobinárie #vidastransimportam #transgenero #nãobinário #hormonização