Bem, vamos por partes.
A criança durante muito tempo não possui uma identidade de gênero. Ela segue exemplos, repete o que ouve, e armazena informações, isso não quer dizer que essas informações ou exemplos lhe servirão de parâmetros para sempre. Uma criança na primeira infância simplesmente “É”, ela não tem consciência de uma identidade de gênero, não sabe de sua sexualidade e nem se importa com isso.
No entanto, após certa idade, a criança passa a se identificar com alguma identidade de gênero com o qual tem contato, mesmo que seja virtual, e a partir desse momento ela passa a se compreender sob aquele espectro de gênero, entenda que o que estou dizendo aqui, é que a criança depois de despertar sua sexualidade, sua identidade de gênero, ela buscará em seu entorno, padrões para se apoiar.
Algumas vezes, a criança usa palavras e frases ensaiadas e ensinadas a ela, mas isso não necessariamente representa sua realidade.
Uma criança não conhece gêneros, não está inserida nas discussões a esse respeito, no entanto, ela desenvolve sua própria identidade de gênero, e por questão de assimilação, acaba se aproximando de alguém que ela vê, mesmo que seja uma personagem de desenhos. Mais tarde, ela poderá trabalhar melhor essa questão e se desvincular ou não, daquela figura que lhe serviu de base para estruturar sua identidade.
A transgeneridade pode ser percebida numa pessoa quando ainda é criança, ou depois de algum tempo… O grande problema é que, muitas vezes, as pessoas não são cisgêneras, mas por coerção acabam vivendo sob essa imposição e somente depois de ver outras referências e conseguir informação, compreendem quem são de fato, e dependo do estágio de sua vida, a transição torna-se extremamente complexa, pois, a pessoa já possui vínculos sociais, carreira, compromissos, uma identidade social, etc. E não encontra apoio para se desvincular dessas correntes. Sim, existem muitas pessoas não cisgêneras que vivem sob um espectro de gênero com o qual ela não se identifica. Chamamos isso de cisgeneridade compulsória.
Mas vamos voltar às crianças…
Durante os primeiros anos a criança não se importa com sua sexualidade, ela nem mesmo se reconhece com uma, e isso não faz diferença para ela, tudo o que ela quer é brincar, se alimentar, conforto e explorar o mundo ao seu redor.
Muitas crianças despertam cedo uma percepção de seu próprio ser, porém, muitas vezes são podadas e acabam se confinando dentro de uma moldura social, ou o armário, como dizem.
Ninguém tem o direito de dizer a outrem quem elu deve ser. Quando lidamos com crianças, não podemos incutir nela nossos valores, nossos anseios e preconceitos. Tudo o que temos a fazer é ouvir a criança, entender o que ela está trazendo até nós e procurar apoiá-la no que for preciso para que ela seja feliz e se desenvolva plenamente.
Parece papo de educadora sonhadora, mas é um pouco mais que isso.
Jamais podemos corrigir uma criança quando ela se denomina como algo que ela se identifica, obviamente precisamos dar a ela uma orientação, mas essa orientação não pode vir atrelada a uma ideia de conversão, nunca!
Então, crianças transgênero existem. Existem e precisam de atenção, respeito e orientação. Por isso é importante sempre nos mantermos atualizades a respeito do que está rolando ao redor do mundo, os discursos que estão surgindo e mesmo que não faça parte de nossa vivência, entendê-los e respeitá-los.
Ser uma pessoa trans não é uma questão opcional, é uma questão de essência. Você nasce com essa essência, e no decorrer da vida, você externaliza ou não. Ninguém optaria trocar uma estimativa de vida de 70/75 anos por uma de 35 anos. Ninguém gostaria de trocar a segurança hétero e cisgenera sob a qual foi colocade, para ser alvo de preconceito e violência. Acontece, que ser quem você é, de verdade, vale todos os sacrifícios.
Muitas pessoas acreditam que cada grupo deve lutar por seus direitos, por seu espaço e visibilidade, no entanto, é bem o contrário disso. Toda a sociedade precisa apoiar todos os movimentos sociais que visam a melhoria da convivência humana. Cada vez que viramos as costas para uma causa, estamos colaborando com a opressão, e os opressores não conhecem limites. Hoje, eles tiram os direitos da população preta, amanhã da população LGBTQIA+, e semana que vem será o seu grupo. Então, precisamos nos unir como seres humanos, nos respeitarmos e lutar juntes, pois, se um grupo cai, enfraquece a luta e logo todos cairão.
Beijos da Pri!!! ^^
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