sexta-feira, 1 de outubro de 2021

1 de Outubro - dia nacional do idoso e dia internacional da terceira idade

 


Hoje, dia primeiro de Outubro celebramos o dia nacional do idoso e o dia internacional da terceira idade.

Muitas vezes não nos atentamos a essas pessoas, ao fato de que pessoas envelhecem, de que nós estamos envelhecendo e de que todos os seres vivos envelhecem. 

Por vezes ignoramos a sabedoria das pessoas idosas, as lutas que elas travaram, o tudo o que conquistaram e nos deixaram como herança civil, social e política.

Pessoas com deficiência envelhecem, pessoas lgbtqiap+ envelhecem... No entanto, a existência dessas pessoas é apagada de nossa História e de nossas memórias, ora propositalmente, mas também como projeto de negação. Sim, pois, no sistema capitalista só é útil aquele que produz, a medida que sua produção diminui em quantidade, sua importância também é diminuída, e esse pensamento é repassado para todos os campos de existência e compreensão e reproduzido massivamente; ao ponto de as pessoas se sentirem menos úteis, se sentirem incapazes e muitas vezes deprimindo-se por estarem somente atrapalhando o progresso da vida alheia.

É importante pensar sobre essa descarga de negatividade lançada sobre as pessoas idosas com aparência e vivências parecidas com a normatividade, entretanto, torna-se igualmente importante refletir sobre a terceira idade de pessoas que estão fora do paradigma social, como por exemplo: pessoas com deficiências físicas, as pessoas neurodivergentes e também as pessoas lgbtqiap+ (do vale).

A produção de conteúdo quase nunca aborda a velhice de lésbicas, gays, travestis, pessoas trans, PCDs ou qualquer corpo dissidente. Isso porque o apagamento da identidade dessas pessoas é pensado e repensado constantemente para fortalecer a normativa social excludente e intolerante.

Se pararmos para pensar na velhice de uma categoria de pessoas, e logo em seguida a compararmos a outras categorias, veremos diferenças gritantes entre elas.

Nós pessoas trans não temos muitos pensamentos a respeito de nossa velhice, primeiro porque não temos referências o bastante para nos espelharmos e de quem nos orgulharmos, depois, que a cada dia que passa, menos acreditamos ser possível envelhecer nesse país. O processo natural de envelhecer não parece tão normal para transgêneros. 

Geralmente pessoas trans são vítimas fatais de violência antes de completarem quarenta anos, e isso acontece por conta da crescente intolerância que se espalha pelo nosso país amparada pelos discursos infames do presidente. Claro, que antes dele as pessoas trans eram assassinadas a todo tempo, mas no governo desse crápula abjeto, os números cresceram astronomicamente. E o filho dele ainda faz questão de mentir, dizendo que os números de violência baixaram por conta desse governo. Ora, em 2019, primeiro ano de governo desse sujeito, explodiram pelo Brasil incontáveis manifestações de violência, tanto doméstica quanto nas ruas. Mas o texto não é sobre ele...

Pessoas trans não sonham muito com a velhice. Esse direito, esse processo natural nos é roubado todos os dias. Nossas vidas são interrompidas arbitrariamente  por pessoas que não dão valor à vida, às pessoas, ao país e a nada se for ver bem.

As pessoas PCDs e LGBTQIAP+ envelhecer apesar do apagamento histórico e dos assassinatos premeditados. E ao envelhecerem deixam para trás um legado, uma história, uma pavimentação para que as mais jovens sigam com menos dificuldades. Hoje no dia do idoso, precisamos refletir muito sobre nossos antecessores, sobre suas lutas e a importância histórica que tiveram e têm para nós. Precisamos agradecer a essas pessoas e nos espelharmos em suas trajetórias.

Eu sei que é mais difícil para nós do vale nos espelharmos em idosos justamente por conta das barbaridades citadas acima. Mas precisamos procurar exemplos de vivências e resistências e mostra-las ao mundo, envelhecer é natural e como tal, nós envelheceremos e deixaremos nosso legado, pode ser que não seja essa geração, mas há de haver uma velhice colorida e com deficiência que mostre ao mundo que essas pessoas existem e são importantes para a sociedade.

Respeitem as pessoas mais velhas, principalmente as pessoas que não estão dentro da normativa padrão, essas pessoas são verdadeiras joias para nós e para nosso futuro.

Hoje, no Brasil, envelhecer é privilégio. E não estou falando só referente aos casos de violência que nos arrancam a velhice à força, mas também sobre o descaso que se tem pela saúde de pessoas pobres, pelo desamor pregado às pessoas periféricas, pretas, indígenas e que se reconhecem com o gênero feminino. Muitas pessoas têm acesso à saúde dificultado e muitas vezes negado, o que coloca essas pessoas na lista estatística de mortes por doença, o que não dizem é que se fossem tratadas elas não teriam morrido.

Então sim, envelhecer é privilégio no Brasil. Privilégio de quem tem condições de se alimentar bem, de comprar remédios, de pagar por um plano de saúde, contar com segurança, lazer e paz. O nível de estresse e traumas que afetam a saúde mental de nossos idosos mais comuns é simplesmente alarmante. Muitas histórias de idosos são carregadas de episódios que desmontariam qualquer um de nós, e mesmo assim, não valorizamos a força dessas pessoas, a perseverança, e a importância ancestral que elas têm.

Vamos naturalizar a velhice. Aquele lance de juventude eterna é fantasia e ficção científica. Não pense que você viverá para ver a ciência evoluir a tal ponto, porque não vai. Então aceite, você vai envelhecer, e daí, como vai querer que tratem você? Qual a importância que deseja que te deem? 

É isso, beijos da Pri!!! 




4 comentários:

  1. A autora tem dualidades de preocupação e medo do desconhecido. Linda, a velhice é para todos, e trans, ou outro pronome que acham o certo envelhece, e há centenas de anos centenas e milhões de trans envelheceram, não pense que essa geração está sozinha. Viva sua vida intensamente, não se preocupe como é envelhecer trans ou outro. Envelhecer é uma realidade, ter uma velhice assistida é sorte. Parabéns por essa atitude literária e humana em se preocupar com a velhice. Leia NA VELHICE QUERO SILENCIAR de minha autoria. Esta no www.linkidincom. beijos em seu coração ❤

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    1. Envelhecer é natural, com certeza. Eu sinceramente ainda não vejo tantos exemplos trans com mais de 40 anos, mas creio que verei, mesmo que demore.
      A velhice é para todes, claro, mas nem todos desfrutam dela como deveriam, porque nossa sociedade ainda não vê a velhice como algo essencial, e pessoas alvos nem chegam à velhice. Essa é minha preocupação e minha dor. Algo natural nos é tomado à força.
      Eu sinto a força das novas gerações, cada vez mais se politizando e se unindo, mas infelizmente, ainda mantenho meu apontamento, a velhice ainda é um privilégio. E é óbvio que tenho medo do desconhecido, quando o desconhecido se prenuncia como nefasto, como não temer?

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    2. Eu acho uma falta de respeito a pessoa vir no site da outra divulgar seu próprio trabalho.

      Pri, parabéns pelo texto, adorei mesmo. Eu entendo precisamente o que é a velhice para a população LGBT e ainda mais para pessoas trans, você sabe. Sua dor é minha dor, minha flor.

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    3. É, eu também acho. Só não apaguei porque, querendo ou não, isso conta como relevância para o blog. E se ela necessita tanto, desesperadamente de divulgação, então deixa aí. rsrs

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