Gênero fluido, como lidar com elus?

 

Olá queride leitore!

Decidi começar esse texto bem do início, para que fique o mais claro possível para quem o ler, e mesmo que não seja uma pessoa lgbtqiap+, a minha intenção é que termine a leitura com uma compreensão desejável sobre o tema.

Em nossa sociedade as pessoas são definidas entre Cisgêneras e Transgêneras. A primeira categoria se refere à pessoas que ao nascer foi designadas com um gênero baseado no seu órgão genital, e mesmo depois que essa pessoa desenvolve sua consciência e se depara com inúmeras situações sociais, continua se definindo de acordo com o que lhe foi imposto ao nascer. Para exemplificar melhor, podemos pensar numa criança que ao nascer foi designada como menina, e mesmo depois de desenvolver sua consciência e sua autopercepção, continua se entendendo como pertencente ao gênero feminino. A segunda categoria se refere à pessoas que após desenvolverem sua consciência e sua autopercepção, discordam do gênero imposto sobre ela ao nascimento, ou até antes dele. Pessoas transgêneras, ou simplesmente trans, discordam do gênero imposto e em muitos casos transicionam (se bem que o termo transição é bem amplo, abordá-lo-ei adiante) para se adequarem ao gênero com o qual ela mais se identifica.

Bem, acho que ficou claro que se você não é cis, você é trans. Certo? Mas o que é ser transgênero?

O termo transgênero é um termo guarda-chuva, pois debaixo dele abrigam-se diversos outros. Sob o aspecto trans estão outras denominações, como: Travesti, Não-binárie, Two Spirits, Gênero estrela, Agênero, Gênero neutro, Intersexo, Queer, Gênero Fluido e outros mais. 

O foco desse texto são as pessoas de Gênero Fluido. Por definição, uma pessoa GF é uma pessoa trans, mas também está inserido sob outro termo guarda-chuva, o de Não-bináries. Sim, pois, GFs não podem ser compreendides através de uma lógica binária de gêneros, se não está inserido numa identidade completamente feminina e nem completamente masculina, é por definição NB.

Então quer dizer que uma pessoas de Gênero fluido não pode ser denominada nem no masculino e nem no feminino? Pois é, teoricamente não, mas isso vai depender dos gêneros que a pessoa expressa.

Uma pessoa de gênero fluido é uma pessoa que não possui um gênero fixo, ela transita entre gêneros, as vezes dois e as vezes mais. O fato é que em dado momento a pessoa transita para outro gênero e se esse gênero for binário (masculino ou feminino) a pessoa pode ser tratada com os pronomes adequados, que sempre serão sinalizados por ela.

Essa transição de gêneros não é controlada pela pessoa, simplesmente acontece sem depender de sua vontade. Já ouvi relatos de GFs que dizem que mudam de gênero várias vezes por dia. Algumes dizem que determinadas situações ou locais influenciam nessa transição de gêneros e ouvi relatos também de GFs que transitam para um gênero especifico quando estão na presença de determinadas pessoas. Percebe, elus não possuem esse controle. Algumas mudanças de gênero ocorrem com intervalo de tempo diário, outras semanais, outras mensais, outros de acordo com a fase da lua, outros são anuais e existem os aleatórios que não seguem uma periodicidade. Seja como for, a pessoa não tem controle para escolher quando seu gênero vai mudar ou sequer conter essa mudança, ela simplesmente sente as mudanças. O modo de ver o mundo, o modo de se relacionar com as pessoas, o modo como absorve as emoções e sensações, as opiniões, o modo como se veste, as fragrâncias preferidas, comida etc... Tudo isso pode mudar quando o gênero muda. Não é como se a pessoa mudasse de personalidade, mas é quase isso. A personalidade dela pode ter sim alterações, mas ela continua a mesma pessoa, com as mesmas memórias, com o mesmo intelecto, apenas o modo como acessa suas faculdades mentais e suas emoções mudam, e claro, o modo como se relaciona com o mundo e consigo mesma.

Lidar com pessoas não-binárias não é tão difícil quanto imagina-se. Tudo o que é preciso é um pouco de paciência e empatia, aliás, isso é o básico para lidar com qualquer ser humano.

É sempre bom perguntar à uma pessoa de gênero fluido como ela quer ser tratada naquele momento. E é muito importante também que a pessoa GF sinalize suas mudanças de gênero, pois isso ajuda as pessoas se orientarem. 

Pessoas GFs que mudam de gênero muito rápido sofrem muito, pois, nem sempre está em conformidade com seu gênero. Imagine uma pessoa num corpo "masculino" (entre aspas porque corpos não possuem gêneros) que se arruma para trabalhar, coloca gravata, terno, penteia a barba e tal, mas no meio do caminho o gênero muda para feminino e fica assim o dia todo, imagine o tamanho do desconforto que essa pessoa sente. 

Lidar com seu próprio corpo e com suas expressões de gênero (quando há) é um dos maiores desafios de uma pessoa de Gênero fluido, porque ela nunca sabe o que esperar, nunca sabe quando mudará e nem sempre está preparada para esse mudança. Muitas optam por assumirem um visual mais andrógino e usam roupas neutras, sem marcação de gênero. Mas nem sempre é o que gostariam de vestir ou expressar, o fazem por conta da dificuldade social em lidar com suas mudanças. Outras assumem esse visual porque sentem-se confortáveis e evita maiores frustrações, seja como for, a pessoa GF sempre encontra alguma dificuldade em seu cotidiano referente a gêneros.

Nem todo mundo consegue entender que no início da manhã a pessoa usava pronomes masculinos, mas que na hora do almoço prefere os femininos, requer um exercício de empatia muito grande, e de clareza por parte de GF.

Quando vir uma pessoa que se declara Gênero fluido, nunca, jamais, coloque sobre ela um rótulo binário. Não se oriente pelo corpo da pessoa, o corpo é apenas uma casca que carrega a única coisa que importa, nossa essência, nossa consciência... Isso serve para qualquer pessoa, mas vamos direcionar para as não-binárias.

Conviver com GFs é um pouco complicado no começo, pois requer uma adaptação a qual nunca experimentamos, que é olhar para uma pessoa e destitui-la de gêneros, e trabalhar apenas com as informações que ela oferecer, e quando isso muda, é preciso ter a acuidade de mudar sua forma de pensar também. Sim, pois quando a pessoa se apresenta com digamos um gênero feminino, você precisa compreender essa pessoa como uma identidade feminina e usar esses pronomes com ela, mesmo que ela tenha um corpo "masculino", e quando ela mudar para um gênero neutro, por exemplo, você precisa olhar somente para dentro dessa pessoa, tratá-la com carinho e empatia e sem pensar nela como homem ou mulher, e a mesma coisa para todos os gêneros que ela assumir.

Algumes GFs também assumem sexualidades não-binárias. Sim, pois não sendo homem nem mulher, não tem como aplicar sobre elus uma sexualidade binária como: héterossexual, homossexual, ou identidades sexuais como gay e lésbica (se bem que são identidades políticas também, e muites NBs usam, para facilitar a compreensão de outrem e para dar voz ao movimento e ocupar uma posição política), então algumes GFs se denominam como androssexual (que sente atração por pessoas que expressam masculinidade), ginessexual (que se atraem por pessoas que expressam feminilidade), e as sexualidades que independem de gênero geralmente são usadas com mais clareza, como: bissexual, panssexual, Assexual, etc. Fale lembrar que uma pessoa GF que se denomina bissexual, e se atrai por masculino e feminino, continua sendo NB. Muita gente acha que bissexuais se atraem pelo próprio gênero e mais um, quando na verdade não é bem assim.

Não disse antes, mas muites GFs usam os pronomes neutros o tempo todo, justamente para evitar contrarreações e infortúnios.  

Não sei se ficou claro, mas GFs podem transicionar entre vários gêneros, e muitos são gêneros não-binários, o que complica um pouco quando nos relacionamos com pessoas presas à ótica binária.

Só para resumir e terminar, GFs não são homens nem mulheres, isso independe do corpo que ocupam. GFs são pessoas Não-binárias que não possuem gêneros fixos, e merecem atenção, carinho, empatia e respeito, como todo e qualquer ser vivo.

Beijos da Pri!