Tudo bem não estar pronte

 

Este texto é dedicado à todas as pessoas que por qualquer motivo que seja, não puderam, não conseguiram, não pode, não consegue (ainda) sair do armário.

Essa expressão é muito usada dentro e fora da comunidade LGBTQIAP+, ela já foi jocosa, mas hoje encaramos com naturalidade, e até fazemos brincadeiras com ela.

Sair do armário significa revelar-se uma pessoa LGBTQIAP+, assumir-se.

Quando uma pessoa se assume, invariavelmente ela sofrerá rejeições, perceberá mudanças de tratamento para consigo vindo das pessoas ao seu redor, receberá ofensas, pode ser que seja vítima de perseguições e até violência física (o que não é raro no nosso país), e certamente essa pessoa será marcada socialmente.

Existe um momento na vida de cada LGBTQIAP+ em que elu precisa ponderar, colocar na balança suas possíveis escolhas, fazer a listinha dos pontos, enfim... Precisará pensar a respeito do próximo passo. Isso ocorre à partir do momento em que a pessoa se questiona sobre seu gênero e/ou sua sexualidade.

Nem sempre após um questionamento tão profundo você receberá a "revelação" que você seja mesmo LGBTQIAP+, em alguns casos é meramente uma dúvida, uma incerteza, e isso é normal, sem problemas, todo mundo tem dúvidas, ainda mais quando vivemos momentos conturbados. Muitas pessoas não admitem, mas mesmo sendo heterossexuais já palpitaram o coração ao ver uma pessoa do mesmo gênero, que se encaixa nos seus padrões de beleza, ou até aquela admiração profunda, quase romântica (platônica na maioria dos casos) por uma pessoa do mesmo gênero, e mesmo que por um segundinho, pintou aquela dúvida. É normal.

Porém, em muitos casos, a pessoa começa se questionar sobre seu gênero e/ou sexualidade porque realmente não está vivendo de acordo com o que sente, mas sim sob regras sociais e papeis previamente atribuídos a ela e completamente estereotipados. E é nesse ponto que o título faz sentido.

Como dito antes, assumir-se publicamente irá trazer consequências, porém, as vezes é preferível encarar essas consequências a continuar vivendo escondide, fingindo ser o que não é. Claro, também existem casos de pessoas que após a ponderação, decidem se assumir somente para si e para pessoas com quem ela for se relacionar, e está tudo bem. Isso não é menos digno, não é menos importante, na verdade, é uma forma de se preservar. Sim, algumas pessoas possuem chefes lgbtfóbicos, outras estão inseridas num contexto religioso muito rígido, outras vivem sob regras sociais tão intensas que se as abandonasse, ficaria perdidas. Tudo isso é compreensível.

Existem pessoas que não se revelam por medo de sofrer represálias e/ou violência, existem pessoas que sentem vergonha quando pensam em se revelar. Note que essa vergonha é regulada pelo ambiente externo. É como vários outros casos de diferentes tópicos: pessoas com cicatrizes que têm vergonha de mostrar, pessoas gordas que vão à praia e não vestem roupas de banho tal como gostaria, pessoas que não contam que foram reprovadas numa entrevista de emprego ou até que pegaram DP na faculdade... Tudo isso é escondido porque está sujeito à julgamento externo. 

Atualmente é mais fácil você encontrar informações sobre o que sente, o que pensa, encontrar pessoas para conversar e trocar experiências, é mais fácil se identificar e se assumir, a rede de apoio é maior, maaaasss...nem de longe é completamente inclusiva.

Embora hajam riscos eminentes ao se assumir, também existe o outro lado. Quando você sai do armário, você passa a viver sob seus princípios, sob normativas que fazem sentido para você, a sensação de sufocamento diminui e você experimenta a liberdade, bem, por assim dizer.

Não é fácil se assumir. Ao contrário, é mega difícil. Requer muita ponderação, requer o mínimo de proteção e meios de auto sustentação (no caso de você sofrer uma rejeição e ter que sair de casa) e o mais importante, requer uma rede de apoio, pessoas que te conheçam, que gostem de você, que te apoiem, que lutem ao seu lado, que permitam você existir tal como é... Essa rede é construída ao longo da vida. Muitas pessoas que vivem sob a heterocisnormatividade acolhem pessoas LGBTQIAP+ por fraternidade, humanidade, empatia, sabe?

Mas o que eu quero dizer com esse texto é que, tudo bem se você ainda não está pronte para sair do armário. Tudo bem mesmo. Tem pessoas que vivem suas vidas todas sem sair dele, muitas escondem suas verdadeiras essências de si próprias, não é o ideal, mas acontece. Isso te machuca, te irrita, te impede de viver e de ser você mesme, mas acontece (é triste, mas cada um sabe suas limitações). Tudo bem se você olhar no espelho e dizer "você é lgbtqiap+" e para mais ninguém. Tudo bem mesmo. Afinal, só você pode dizer o quão importante e o quão urgente essa questão é para você.

O importante é ter consciência de sua essência, saber quem você é, saber que lá fora existem mais pessoas como você, que ainda não saíram do armário, e saber também que lá fora há pessoas assumidas que estão te esperando de braços abertos. Então, se você está numa fase de questionamentos, tentando decidir se vai se assumir ou não, vai com calma, coloque sua segurança em plano de prioridades. Mas acima de tudo, escute seu coração. Parece clichê dizer isso, mas não é. Viver feliz é o que importa no final, se você acreditar do fundo do coração que a sua escolha vai te deixar feliz... Vai firme! Se der medo, vai com medo mesmo. Afinal, tudo o que desejamos está do outro lado do medo.

Então para finalizar, desejo a todes boa sorte! Não só aes assumides, mas aes que estão no armário ainda. todes precisamos de apoio e um pouquinho de sorte. E sair do armário não tem data, não é uma corrida, saía quando estiver pronte, aos quinze, aos vinte, aos trinta, aos cinquenta, aos noventa... Tanto faz, desde que seja feliz. E para fechar, se você não está pronte, não se entristeça, se fortaleça, se informe, crie uma rede de apoio e quando se sentir forte, saía do armário.   

Beijos da Pri! ^^