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domingo, 14 de fevereiro de 2021

O que é lugar de fala?

 



O termo "lugar de fala" tem sua origem desconhecida, acredita-se que seja oriundo de debates de mulheres pretas, indianas e ligadas à movimentos sociais. Está associado ao poder de falar sobre si numa sociedade universalista. E essencialmente branca, cisgênera, héterossexual e masculina.

Mas o que é lugar de fala? Quem tem lugar de fala? Primeiramente, todes têm lugar de fala, todes podem lutar pelos direitos de pessoas que não pertencem ao seu grupo social, no entanto, só uma pessoa pertencente aquele grupo pode falar por si.

Quando falamos de lugar de fala, não estamos falando instantaneamente de sociabilidade e sim de poder. Dentro de nossa sociedade, o olhar branco, hétero, patriarcal e cisgênero tende a ser tido como universal, perpassando todas as necessidades e vivências de todos os outros grupos.

Quando um branco estuda sobre racismo, ele é um especialista em análise de dados e interpretação de discursos, e também um propagador desse debate, no entanto, só a comunidade preta pode decidir o que é racismo. Se um preto disser que ele foi racista, e ele tenta argumentar expondo suas pesquisas, ele está tirando o lugar de fala da pessoa preta. Entendem isso?

É imprescindível que todes conheçam um pouco sobre todos os assuntos, afinal vivemos em sociedade e esbarramos em questões delicadas o tempo todo, o que pode gerar um conflito de poder e até segregação.

O lugar de fala não existe para calar outras pessoas que não pertencem a um grupo específico, ao contrário, ele existe para dar voz a todos os outros grupos. No livro LUGAR DE FALA da filósofa Djamila Ribeiro, é abordada justamente a questão político-social do lugar de fala em relação às esferas de poder instaladas na sociedade. As quais lutamos para equilibrar.

É comum escutar reclamações de homens brancos e héterossexuais dizendo que num debate sobre não binariedade, por exemplo, seu lugar de fala foi negado. Oi? Que lugar de fala? O lugar de fala tem a ver com o poder exercido por um grupo, a repressão sofrida por ele e as experiências específicas vividas por esse determinado grupo. Então nesse caso, Não bináries tem o lugar de fala quando o assunto é não binariedade, a pessoa binária não. O que ela tem de fazer é ouvir, aprender e aceitar que está reproduzindo dados e não falando com propriedade. Isso não quer dizer que ela não possa falar sobre isso, mas nunca será seu lugar de fala, jamais.

O discurso dominante sempre impediu que os grupos minoritários se expressassem e de serem ouvidos, então o lugar de fala propicia esses grupos falarem sobre si, demonstrarem suas necessidades, suas reivindicações e denunciar a opressão que sofrem. O lugar de fala veio dar voz para esses grupos, e essa voz não está ligada somente à fala, mas também ao sentido de existência, é uma maneira mais coerente de discutir poder de fato. 

O lugar de fala discute como o grupo social por fazer parte de uma sociedade atravessada pelo discurso dominante, troca experiências e como essas experiências são atravessadas dentro da matriz de dominação que impede a existência desses grupos em determinados espaços. Vem também lançar uma luz sobre o discurso universal de como ele precisa pensar suas estruturas e seus significados. 

É importante todes pensarem a respeito do seu lugar de fala, de onde você está falando, porque por exemplo; o homem branco, cis-hétero não se vê como marcado, ele não se vê como um individuo identificável, mas sim como parte de um corpo universal que domina todos os outros seres, ele está sempre fora do discurso, a norma que cobre a sociedade, e a lógica de poder é sempre a dele. Então quando ele se coloca no seu lugar de fala e reflete as demais questões a partir do seu lugar específico e marcado na sociedade, aí então ele começa a se enquadrar no discurso democrático.

O mais comum é ver pessoas que não pertencem a grupos minoritários falando sobre o que aquele grupo precisa, o que aquele grupo deve fazer, o que essas pessoas acham certo ou errado em relação aquele grupo ao qual ele se dirige, mas não pertence. 

Todes podem pensar criticamente a respeito de outros grupos e de como ajudar esse grupo alcançar um nível de poder e representatividade desejável. No entanto, uma travesti negra, não se sentirá representada por uma mulher branca, mas essa mulher branca pode levantar o discurso sobre racismo e homofobia e pensar em como ela pode se responsabilizar a pensar criticamente sobre o lugar que essa travesti ocupa dentro da sociedade, mas nunca, jamais, falar por ela.

Não sei se é um erro comum ou uma repetição comum desse ato, mas sempre que vejo pessoas de grupos majoritários debatendo com grupos minoritários, as pessoas do grupo majoritário tendem a impor suas ideias a respeito dos conceitos levantados pelos grupos minoritários.

Para resumir; só mulheres podem decidir o que é machismo, só pretes, indígenas e etnias não brancas podem decidir o que é racismo, só pessoas lgbtqiap+ podem decidir o que é lgbtfobia, só transgêneros podem decidir o que é transfobia e só pessoas com deficiência podem decidir o que é de fato capacitismo. Se você não pertence a esses grupos e recebeu uma crítica dizendo que você foi de alguma forma preconceituoso, é porque você foi. Aceite, desculpe-se, estude sobre o assunto e não erre mais.


Beijos da Pri! ^^









11 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi querido, novamente por aqui? Agradeço demais sua audiência.
      Não tem carma nenhum não, é só uma questão de incompreensão da sua parte mesmo.
      Quanto ao nome, se você ler o post anterior verá que nomes são praticamente sagrados, e não camisetas com estampas de famosos que você usa para ficar legal.
      Meu nome vem das crenças pagãs cultuadas por mulheres emancipadas, que por sinal eram perseguidas por dizerem a verdade e expor as mentiras e repressões.
      Espero ter sanado sua curiosidade.
      E novamente, obrigada pelas constantes visitas. ^^
      Beijo e passe bem, tá?!

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  2. Respostas
    1. Meu querido, a partir do momento que você quer decidir o que é certo ou errado para um grupo, você está invadindo o espaço dele.
      Não importa o quão amigo você seja de um grupo, se você interferir nos interesses sociopolíticos e pessoais dele, as pessoas desse grupo vão reclamar.
      Só NB, mulheres, PCD e intersexo podem decidir o que se encaixa melhor na linguagem neutra. Você NÃO TEM LUGAR DE FALA NA COMUNIDADE LGBTQIAP+, NA COMUNIDADE PRETA, NA COMUNIDADE FEMININA E NA PERIFERIA. Sacou?
      Você não pode atuar como mediador de assuntos que não dizem respeito a você. O seu lugar de fala é de um homem branco hétero.
      Acho que fui bem clara na resposta que dei no facebook. Você é livre para usar ou não a linguagem neutra, cabe a você ter empatia e incluir o máximo de pessoas na suas obras. Se você não pensa nos interesses dos grupos dos quais não pertence, só mostra o quão desinteressado você é a respeito da empatia.
      Mas relaxa! O país é livre, você pode ser empático a quem quiser. Isso é meramente uma questão de caráter e humanidade.
      Eu jamais vou permitir que uma "amizade" dite regras para mim se ela não pertencer ao mesmo grupo.
      Leia o texto novamente e encontre a parte que diz que cada grupo é quem decide o que é certo, errado, feio, útil ou não para si.
      Abraços!

      PS: Agradeço muitíssimo pelas visitas. ^^

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Você só concordava comigo no tempo em que eu não havia me assumido LGBTQIAP+. Depois você passou a discordar enfaticamente e tentar impor seus argumentos.

      Só uma coisa, amizade de facebook é amizade sim. Mas nunca fomos amigues, no máximo tínhamos objetivos parecidos e uma parceria literária. Só.

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  3. Respostas
    1. Merda?
      Interessante, o que você chama de merda, intelectuais de verdade chamam de consciência de grupo/classe.
      Eu tô me justificando de quê querido? Não sei não, mas o adjetivo de burra deve caber em outra pessoa rsrsrs.

      Olha só, você novamente TENTANDO me ofender por conta da minha condição. Sim os hormônios mexem mesmo com meus ânimos e emoções, e você jogar isso na minha cara como se fosse uma ofensa mostra muito da sua índole nauseante.
      Não sei se você leu direito, mas o texto não fala de mim, fala de grupos, da voz que eles possuem e lutam para ter.
      Se não conseguir entender, porque é difícil mesmo, eu sei que é, peça ajuda. ;)

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    2. Você apaga seus comentários por que se dá conta que fez merda, ou é mania de escrever ofensas e apagar?

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

      Vocês está de brincadeira né?

      A grande merda que eu fiz foi aceitar sua amizade virtual.
      Nunca, te ofendi. Falei da sua postura reacionária nos debates e você, veio atacar minha condição. Você despejou sobre mim sua transfobia e vive me chamando de inúmeras coisas ofensivas. Antes de você se declarar transfóbico contra mim, eu jamais me dirigi a você de forma que não fosse respeitosa.

      Só que já era Pedro, você queimou sua imagem, parra mim, e para todo mundo que acessa esse blog. Você veio dizer que eu assumi minha transgeneridade para me aparecer, e depois vem dizer que eu tenho que te pedir perdão. Você não tem noção da realidade ou se finge de idiota, só pode. Eu nunca vou te perdoar por suas transfobias, nunca. Você me causou muito mal e se tem alguém que deveria ter se desculpado, formalmente e publicamente, seria você. Mas você não fez. Me mandou um e-mail pedindo desculpas depois de mais de dez me ofendendo.

      Você é inacreditável mesmo. Nunca mais te mando e-mail, você está bloqueado em tudo. E é assim que vai ficar.

      Ah, para de me perseguir cara, que coisa chata.
      Você fica visitando o blog pra quê? Pra me ofender e me incomodar? Sabia que isso é crime né? Você como jornalista deve estar informado sobre as leis antistalker e perseguição física e digital. Ou não?

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