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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Semana da conscientização transgênero

 


Normalmente observada durante a segunda semana de novembro, antecede o Transgender day of remembrance, que homenageia as vítimas de violência transfóbica. O TDOR ocorre em 20 de novembro, quando defensores das causas trans procuram aumentar a conscientização sobre pessoas trans por meio de atividades de educação e defesa. O objetivo da semana de conscientização e do TDOR é conscientizar a população a respeito das vivências trans e de todas as monumentais barreiras que essas pessoas enfrentam na sociedade.

Se existe uma data como essas, é porque há violência e exclusão em níveis astronômicos. Com isso podemos entender porque não existe uma semana da conscientização hétero, ou cis ou até branca, não é? Porque essas pessoas não são agredidas ou excluídas unicamente por serem quem são, mas as pessoas transgêneros sim.

O Brasil é um dos campeões em assassinato de transgêneros e travestis. Um país plural, herdeiro de diversas culturas, aberto para o mundo, "politicamente democrático" e ainda assim é tão segregacionista quanto a antiga inquisição.

Recentemente a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) publicou um boletim computando as mortes de pessoas transgêneros contando de 1° de janeiro a 31 de agosto, e o resultado é catastrófico, 129 pessoas foram assassinadas, todas expressavam o gênero feminino. Ano passado, para o mesmo período, foram 76 mortes, isso resulta num aumento de 170% nos assassinatos.

Por que a existência de uma pessoa transgênero, sobretudo do gênero feminino, perturba tanto a população cisgênero, principalmente homens? 

Claro que podemos apontar o patriarcado e o machismo como grandes motores para pessoas se acharem no direito de assassinar pessoas que se distinguem de seus gêneros. Aliás, essas são bases fortes que alimentam toda a LGBTfobia, principalmente a transfobia. Homens cis que cometem esses crimes de agressão e homicídio, o fazem por se incomodarem com a presença, com a existência de uma mulher trans ou travesti. Por quê?

Por que importa tanto que as pessoas não sigam um padrão pré-determinado pela sociedade e que nem ao menos faz sentido nos dias atuais. Será que é a única forma de manter a máquina do sistema funcionando? Manter as pessoas ignorantes, violentas, segregacionistas e intolerantes, faz com que elas não olhem para os reais problemas, que são a dominação e opressão que o Sistema exerce sobre toda população.

A existência de uma pessoa não deveria afetar a vida de outra, e na realidade não afeta, não do modo como é imaginado e vociferado pelas pessoas transfóbicas. Não altera a vida de ninguém se uma pessoa se identifica como homem, mulher, os dois ou nenhum dos dois. Nossas vidas seguem caminhos diferentes, podem ser paralelos ou se cruzarem em alguns pontos, mas cada ume tem sua jornada e isso precisa ser respeitado.

Cada pessoa é única no mundo (até então no universo também) e sua essência, sua jornada só afetará a própria vida. Você pode ajudar uma pessoa a alcançar um objetivo, um sonho etc, e isso não vai retirar suas possibilidades de você. 

As pessoas transgênero sofrem exclusão generalizada na sociedade, limitações espaciais, educacionais e profissionais, o que gera na população trans inúmeros desconfortos e traumas, que resulta em um gigantesco afastamento de possibilidades reais de desenvolvimento e bem estar. Muitas das pessoas privadas de escola, saúde, trabalho, famílias e amigos, acabam cometendo suicídio, que é bem alto também e continua em ascensão. Ano passado foram registrados 12 suicídios de pessoas trans, já esse ano com um aumento de 34% o número foi para 16 registros. Devemos lembrar que muitos casos são abafados pela família e pela mídia, que nem ao menos faz questão de relatar esses índices. Geralmente, o suicídio de pessoas trans está atrelado à exclusão familiar/amigos, e transfobia na escola/faculdade e locais de trabalho.

Como é que podemos desejar um futuro, um mundo melhor, se fazemos esse tipo de exclusão e permitimos esse tipo de violência? O raciocínio transfóbico estrutura uma gama de pensamentos intolerantes que se materializam em ações, geralmente homicídios. Que sociedade estamos construindo preservando o ódio e a ideia de que uma pessoa que é diferente de você deve morrer?

Não é porque não é a sua realidade que não possa ser a de alguém ao seu redor, ou de alguém com quem se importe. Você pode não ser trans, e pode pensar em não lutar pelas causas trans justamente por isso, mas... E se sues filhes se declararem trans? Se sues alunes, parentes, amigues, cônjuges, ou alguém que você realmente gosta? Ainda assim não é motivo para levantar a bandeira? Já parou para pensar que ao seu redor, entre os que você ama, pode ter alguém trans que se vê oprimide por todo esse caos social?

A única coisa que as pessoas transgênero pedem é respeito. Elas só querem ser felizes expressando sua verdadeira essência, sem retaliação por isso. Respeitar não custa nada e não te afeta negativamente em nada, ao contrário, mostra seu lado mais belo para a humanidade e você só tem a ganhar com isso.

Não existem meios racionais que justifiquem um pensamento transfóbico. Muitas das pessoas que agridem ou matam pessoas trans, usam argumentos biologizantes ou religiosos para justificarem suas ações nocivas. Se estão se valendo de argumentos ultrapassados, então a ignorância é indiscutível, e se usam argumentos religiosos, há algo de errado na interpretação pessoal religiosa dessa pessoa, pois, não há registro no mundo de uma religião que não pregue a paz e a evolução do ser humano.

Eu realmente fico irritada quando ouço coisas como "vai influenciar meu filho a ser trans", porque essa mesma pessoa não diz isso sobre os filmes violentos que a criança ou adolescente assiste, não diz isso sobre seriados de ladrões e assassinos que sue filhe vê, não diz isso sobre as novelas que apresentam conceitos preconceituosos, não diz isso sobre músicas que degradam a imagem feminina e sue filhe escuta... Parece que nada na sociedade influencia pessoas além da vivência trans. Bem, deixe eu atualizar essas pessoas... Todes, absolutamente todes nós, somos influenciades por alguma coisa expressa na sociedade, no entanto, temos contato com informações de todos os temas a todo momento e nem por isso somos influenciades por tudo o que vemos ou temos contato. Gênero, é uma identificação pessoal, não existe maneira de influenciar alguém se perceber como pertencente a outro gênero. Nossas experiências particulares, nossas essências não são influenciadas dessa maneira. Não tem como mudar a essência de alguém. As pessoas são quem são. Agora, pensamentos destrutivos, ações violentas, preconceitos, ignorância e sectarismo, isso sim pode ser aprendido e repassado.

Por isso é importante darmos atenção às pessoas ligadas à política, que abordam causas de fortalecimento dos direitos LGBTs e conscientização, e ativistas das causas trans/lgbts. Apoiando essas pessoas na política, na mídia e na sociedade, projetos de inclusão se fortalecem e a sociedade tende a melhorar.

Lembre-se, ninguém possui o direito de executar, maltratar, violentar, ofender ou agredir outra pessoa por ela ser quem é. Todes somos iguais, apenas experimentamos a realidade de maneiras distintas.

Pessoas trans são apenas pessoas. Todas as vidas são importantes. Diga não à transfobia.


Beijos da Pri!!!


#espalheamor #maisamorporfavor 

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